A Convenção Constituinte do Chile, encarregada de redigir a nova Constituição do país, celebrou nesta quarta-feira (4) seu primeiro mês de funcionamento com uma cerimônia indígena da qual participou a maioria dos 155 constituintes.

De mãos dadas em um grande círculo no pátio do antigo prédio do Congresso em Santiago, onde a Convenção trabalha, os constituintes celebraram a liturgia da Pawa, habitual dos povos originários do norte do país – aimara, quéchua, diaguita e colla, principalmente – para agradecer à Pachamama ou Mãe Terra pelo retorno do sol quando se aproxima o fim do inverno no hemisfério sul.

A constituinte Elsa Labraña, da Lista do Povo – grupo de cidadãos independentes, egressa dos protestos de outubro de 2019 – falou à AFP de sua alegria por ter podido realizar esta cerimônia em harmonia com os demais constituintes.

“Temos que entender que o que estamos fazendo neste momento vai ter repercussão em um futuro que talvez nós não vamos ver”, destacou Labraña.

A Convenção Constituinte, composta por 155 cidadãos eleitos de forma paritária e com 17 assentos reservados aos povos originários, começou com polêmica devido aos protestos sociais nas ruas durante sua instalação, a impossibilidade técnica de iniciar seu trabalho – terão nove meses prorrogáveis por mais três – e disparidade de critérios entre constituintes de diferentes matizes políticos e sociais.

Labraña explicou que o primeiro mês serviu para criar diversas comissões e regulamentos que gerem “um plano” de trabalho. “Acho que muito em breve vamos levar adiante este trabalho de forma mais leve, fluida e sem violência”, acrescentou.

Entre a fumaça da cerimônia e uma comunhão na Convenção que poucas vezes se viu durante as semanas anteriores, o constituinte independente Benito Baranda disse à AFP que começa a se notar que o trabalho avança gradativamente e a “tensão vai baixando”.

“Há insatisfações, dores e humilhações que foram colocadas e que temos que ir trabalhando não só no plenário e nas reuniões, mas também nos vínculos humanos entre nós”, afirmou, em relação à diversidade de critérios, pensamentos políticos, origens e realidades dos 155 constituintes.

A cerimônia revelou que as arestas iniciais entre eles vêm sendo aparadas e, assim que se estabelecerem as regras e os mecanismos de funcionamento da Convenção, começarão “a debater os problemas mais graves do Chile, que se referem aos temas substantivos da Convenção e da futura Constituição”, destacou Baranda.

“Vamos chegar a acordos muito bons”, disse o constituinte.

A convenção é encarregada de redigir a nova Constituição do Chile para substituir a atual, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e apontada durante os protestos sociais como a origem das desigualdades no país.