O Consórcio de Imprensa atualizou na tarde deste sábado, 10, os dados referentes à covid-19. Nesse novo boletim, o Brasil ultrapassou a marca de 150 mil mortes pela doença. Desde as 20h de sexta-feira, 9, foram relatadas 331 mortes, aumentando para 150.023 o total de óbitos.

No mesmo período, o País registrou 16.293 novos casos de contaminação por covid-19, elevando o número total para 5.073.483. Os dados são do levantamento conjunto feito pelos veículos de comunicação Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha de S.Paulo e UOL nas secretarias estaduais de Saúde.

Após o primeiro caso, em 26 de fevereiro, e a primeira morte, em 16 de março, o Brasil viu os números crescerem até superarem um platô de 1.000 mortes diárias por quase dois meses, que começou a ceder em agosto (932) e setembro (752). Nos primeiros nove dias de outubro, a média diária é de 630 falecimentos.

A média de infecções diárias caiu de 40.659 em julho para 30.000 em setembro e 27.200 até agora em outubro.

Os especialistas, porém, acreditam que o Brasil atravessa um momento de platô com números ainda considerados elevados, diferentemente dos países europeus e asiáticos, que, após alcançarem o auge da pandemia, viram uma queda mais drástica nos contágios e mortes.

“Chegamos a ter 55.000 casos por dia, mas continuamos com 27.000. Sim, é possível dizer que caiu mais de 50%, mas é como se você descesse do Himalaia para os Alpes, quer dizer, você continua na montanha”, explicou à AFP José David Urbaez, pesquisador da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

“Depois das mortes caírem para 600, ainda haverá um caminho enorme pela frente, com muitas perdas”, completou.

– Sem plano nacional –

Este platô coincide com a reabertura de mais atividades não essenciais, que, segundo os pesquisadores, está sendo feita sem coordenação nacional nem vigilância epidemiológica adequada, o que soma-se ao não cumprimento pela população das medidas preventivas.

“É quase impossível não retomar as atividades” em um país que é testemunha desde março do desaparecimento de mais de 10 milhões de empregos, afirmou o pesquisador Christovam Barcellos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“O comércio e algumas indústrias são importantes, mas isso deveria ser feito com muito cuidado e a gente observa que, infelizmente, o Brasil não tem uma coordenação nacional de procedimentos dessa retomada”, completou, em declarações à AFP.

Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro bate de frente com governadores e prefeitos, que têm autonomia em temas da saúde.

Bolsonaro rejeitou a gravidade da pandemia e apoiou o retorno à normalidade para evitar o colapso da economia, aparecendo sem máscara em atos oficiais ou ao lado de admiradores.

Essa imagem do presidente, que contraiu a covid-19 em julho, “é terrível para que possamos ter uma ideia unificada do que é a pandemia no Brasil”, lamentou Barcellos.

Por conta própria, os governadores e prefeitos colocaram em prática medidas de isolamento social, mas, há alguns meses, autorizam mais atividades como o turismo local, o retorno às aulas e a abertura de bares e restaurantes.

Estão em vigor medidas de prevenção, mas as praias do Rio de Janeiro e de outras cidades, por exemplo, costumam ficar lotadas a cada fim de semana com banhistas sem máscaras, apesar da proibição municipal.

– À espera da vacina –

Apesar dos erros, os dois especialistas destacam que o sistema de saúde tem conseguido melhorar o atendimento aos infectados e o tratamento dos pacientes em estado mais grave.

“Não sei se o pior já passou porque a gente não sabe o que está por vir, mas certamente tivemos momentos piores do que o atual”, analisou para a AFP Jaques Sztajnbok, chefe da unidade de terapia intensiva do Instituto de Infectologia Emílio Ribas de São Paulo, estado líder em mortes por covid-19 no país.

“Muita coisa evoluiu desde o inicio do enfrentamento, então hoje, se a gente for olhar, a taxa de ocupação [da UTI] não é mais de 100%”, completou.

O Brasil desenvolve atualmente testes com quatro vacinas contra a covid-19. O governo espera produzir 140 milhões de doses no primeiro semestre de 2021.

Urbaez, porém, aconselha evitar um excesso de otimismo.

“Acredita-se que a vacina resolverá definitivamente o problema e isso é difícil de afirmar”, explicou o infectologista, que lembrou da importância de um longo processo para que se tenha uma produção e uma distribuição de sucesso.

Enquanto isso, o Brasil deverá encarar as pressões sobre sua economia, como o resto do mundo. O governo amenizou o golpe com ajudas emergenciais para quase um terço da população.

O FMI, que projeta uma contração econômica de 5,8% em 2020 no Brasil, alerta para riscos “altos e multifacetários”, como uma segunda onda da pandemia e uma recessão prolongada.