Os conservadores alemães venceram as eleições legislativas de domingo, marcadas por uma votação recorde da extrema direita, um pleito crucial para a Europa, que enfrenta a incerteza diante da fratura com os Estados Unidos de Donald Trump.
O líder dos conservadores, Friedrich Merz, assumiu o compromisso de iniciar nesta segunda-feira (24) as difíceis negociações para formar uma coalizão de governo, com o alerta de que o “o mundo não está nos esperando”.
Ele fez uma advertência sobre o risco de paralisação em Berlim, no momento em que Trump abala a ordem internacional, a economia alemã está em recessão e a sociedade está dividida após uma campanha que polarizou o país.
Após a vitória nas eleições de domingo, Merz declarou que uma Europa Unida deve fortalecer sua própria defesa e que não tem “ilusões com o que virá dos Estados Unidos”.
Os partidos conservadores CDU/CSU superaram os social-democratas (SPD) do chanceler Olaf Scholz e os Verdes, enquanto a Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita e com uma plataforma anti-imigração, registrou uma votação recorde de mais de 20%.
Apesar da intensa campanha, dominada por temas migratórios, Merz precisará se aproximar de seus rivais nas eleições para formar o governo.
O SPD participará nas negociações sem Scholz, que assumiu a responsabilidade por uma “derrota amarga”.
Seu popular ministro da Defesa, Boris Pistorius, deverá ter um papel mais ativo.
Merz, um advogado de 69 anos, defendeu o tom duro adotado na campanha, mas explicou em um tom conciliador que “agora devemos conversar entre nós”.
“Devemos formar um governo estável o mais rápido possível, com uma boa e estável maioria”, disse.
Ele disse que espera ter o governo formado até meados de abril.
Merz também precisará estabelecer uma comunicação com Trump, que provocou inquietação na Ucrânia e entre os apoiadores europeus de Kiev com sua aproximação do presidente russo, Vladimir Putin.
Trump chamou a vitória dos conservadores de “um grande dia para a Alemanha e para os Estados Unidos”.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, parabenizou Merz por sua vitória e afirmou estar ansioso para trabalhar com ele “neste momento crucial para nossa segurança compartilhada”.
“É vital que a Europa dê um passo à frente nos gastos com defesa e sua liderança será fundamental”, declarou na rede social X.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, parabenizou Merz e disse que espera trabalhar com ele para “fortalecer a Europa”.
Para Reinhardt Schumacher, que foi votar em Duisburgo, no oeste industrial da Alemanha, a ascensão da AfD “é um sinal de alerta. Algo tem que mudar”.
Este aposentado de 64 anos se recusa a votar neste partido, que considera “radical demais”, mas ressaltou que não se deve “ignorar” as motivações de seus eleitores.
O partido anti-imigração e pró-Rússia conseguiu impor seus temas durante a campanha, que aconteceu em um clima tenso, marcado por vários ataques fatais executados nas últimas semanas por estrangeiros no país.
Merz e líderes de outros grandes partidos prometeram deixar a AfD de fora do governo, atrás de um “muro de proteção, de cooperação”.
A campanha alemã foi influenciada pelas ordens executivas e declarações do presidente dos Estados Unidos, assim como pela interferência de seu entorno a favor da extrema direita.
O vice-presidente americano, JD Vance, e o bilionário Elon Musk, assessor de Trump, apoiaram a AfD e aumentaram a visibilidade do partido de extrema direita.
As eleições antecipadas de domingo ocorreram na véspera do terceiro aniversário da invasão russa à Ucrânia, que provocou um choque na Alemanha.
O conflito acabou com o fornecimento de gás russo e o país abrigou mais de um milhão de ucranianos.
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