Parceria com o RN de Le Pen, grande vencedor das eleições europeias, quebraria um tabu de décadas no país. Políticos estão de olho em oportunidade de emplacar primeiro-ministro e maioria na Assembleia Nacional.De olho na oportunidade aberta neste fim de semana para assumir o poder em eleições antecipadas, o chefe do partido conservador francês Os Republicanos (LR), Eric Ciotti, sugeriu nesta terça-feira (11/06) – para a surpresa de observadores políticos – que é hora de superar o tabu que durante anos impediu partidos do mainstream político de se aliarem à ultradireita no país.
"Nós dizemos as mesmas coisas, então vamos parar de inventar uma oposição imaginária", afirmou Ciotti à emissora de TV TF1. "Isso é o que a grande maioria de nossos eleitores quer. Eles estão nos dizendo: 'façam um acordo.'"
Representada por Marine Le Pen e seu partido Reagrupamento Nacional (RN), a ultradireita francesa foi a grande vencedora das eleições ao Parlamento Europeu. Só o RN abocanhou no último domingo 30 dos 81 assentos que a França tem na câmara baixa do Legislativo da União Europeia – mais que o dobro das 13 cadeiras eleitas pela coalizão centrista do presidente francês Emmanuel Macron.
Em reação ao fiasco nas eleições europeias, Macron dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições para a Assembleia Nacional.
O movimento é considerado arriscado, já que, se perder, Macron terá que governar até o fim de seu mandato, em 2027, ao lado de um primeiro-ministro de oposição – na semi-presidencialista França, o presidente depende de um primeiro-ministro apontado pelo Parlamento para assegurar a governabilidade.
Posição não é unânime entre conservadores
Em resposta à declaração de Ciotti, vários colegas de partido se manifestaram contra permitir que Marine Le Pen se aproxime das rédeas do poder.
"É impensável para mim – e para muitos parlamentares do LR – que possa haver o menor acordo, a menor aliança, mesmo local ou pessoal, com o RN", disse o parlamentar conservador Philippe Gosselin à agência de notícias Reuters.
Presidente do RN, Jordan Bardella disse à emissora France 2 que seu partido apoiará "várias dezenas" dos atuais parlamentares republicanos e seus candidatos na eleição. "Confirmo que haverá um acordo entre o Reagrupamento Nacional e os Republicanos", declarou, segundo a agência de notícias AFP.
Le Pen saudou a declaração de Ciotti, chamando-a de "escolha corajosa".
Herdeiro de Charles de Gaulle e Jacques Chirac, o LR tem tido dificuldades em se definir desde a queda de Nicolas Sarkozy e a debandada centrista liderada por Macron.
Todo mundo à procura de aliados
Embora o RN de Le Pen deva se sair bem nas próximas eleições, em 30 de junho e 7 de julho, pesquisas mostram que é improvável que a sigla conquiste votos suficientes para governar sozinha – ela faria até 265 cadeiras na Assembleia Nacional, um salto formidável em relação às atuais 88, mas ainda assim abaixo das 289 necessárias a uma maioria absoluta.
Desde que Macron dissolveu o Parlamento, grupos à direita e à esquerda do espectro político têm conversado.
Na terça, a sobrinha de Le Pen, Marion Marechal, do também ultradireitista Reconquista, disse que não houve progresso em conversas entre as duas siglas.
Partido anti-imigração, o RN apregoa políticas econômicas que ponham a França em primeiro lugar, defende a restrição de benefícios sociais a crianças de cidadãos franceses e a revogação do direito de residência de imigrantes que estejam há mais de um ano desempregados.
O RN também defende expansão dos gastos públicos, apesar do alto nível de endividamento francês.
ra (AFP, AP, Reuters, ots)