A primeira reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o sangrento conflito em Tigré, região dissidente da Etiópia, terminou nesta terça-feira (24) sem um pronunciamento.

Os membros europeus forçaram a realização da reunião a portas fechadas depois que os países africanos se retiraram e expuseram as divergências sobre a ação do Conselho de Segurança nos confrontos que já duram três semanas.

“A África do Sul pediu tempo para que os enviados possam fazer consultas e encaminhar o assunto para a União Africana. Uma declaração poderia complicar a situação”, disse um diplomata após a sessão.

Na reunião, os europeus “expressaram suas preocupações, condenaram a violência de natureza étnica e exigiram a proteção dos civis”, contou um diplomata europeu sob a condição de não ser identificado.

França, Reino Unido, Bélgica, Alemanha e Estônia, apoiados pelos Estados Unidos, anunciaram a reunião virtual depois que a África do Sul, Níger, Tunísia e São Vicente e Granadinas retiraram sua solicitação pois os enviados ainda não viajaram para a Etiópia.

“Em algum momento devemos colocar (a questão da Etiópia) na agenda, mesmo que os africanos não gostem”, disse um diplomata à AFP.

A União Europeia anunciou na semana passada que nomeou três ex-líderes como enviados especiais à Etiópia para tentar a mediação entre as partes do conflito.

Questionado sobre a falta de uma decisão do Conselho de Segurança, o porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu que a UE deve liderar os esforços internacionais.

Há quase três semanas, forças leais ao partido no poder de Tigré lutam contra as tropas etíopes. O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou a rendição dos rebeldes antes de lançar um ataque contra Mekele, capital da região.

Abiy desatou uma campanha militar contra a Frente para a Libertação do Povo Tigré (TPLF) em 4 de novembro. O líder etíope acusou o grupo de atacar campos militares e querer desestabilizar seu governo.

O conflito teria provocado centenas de mortes, mas a falta de comunicação torna difícil verificar os relatos dos dois lados.

Guterres pediu na semana passada a abertura de um corredor humanitário para ajudar os civis envolvidos no conflito, e alertou que as autoridades até agora recusaram tentativas de mediação.

Cerca de 40 mil etíopes fugiram para o vizinho Sudão, de acordo com a agência da ONU para refugiados.