O Conselho de Segurança da ONU adotou de forma unânime, neste sábado (24), uma resolução pedindo “sem demora” um cessar-fogo humanitário na Síria, após 15 dias de adiamentos.

O texto adotado, muitas vezes emendado, “pede que todas as partes cessem as hostilidades sem demora por pelo menos 30 dias consecutivos na Síria para uma pausa humanitária durável”.

O objetivo é “permitir o fornecimento regular de ajuda humanitária e de serviços e a evacuação médica de doentes e feridos mais graves”.

“O secretário-geral destacou que espera que a resolução seja implementada e continuada imediatamente, em particular para garantir a entrega imediata, segura, sem impedimentos e contínua, de ajuda humanitária e serviços, a retirada dos doentes e dos feridos em situação crítica e o alívio do sofrimento do povo sírio”, disse Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.

“Este não é um acordo de paz sobre a Síria, o texto é puramente humanitário”, ressaltou o embaixador da Suécia, Olof Skoog, cossignatário do texto com o Kuwait.

“Estamos respondendo de maneira tardia a esta crise, muito tardia”, disse a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, ao Conselho após a votação, acusando a Rússia de ter atrasado o processo.

O embaixador russo, Vassily Nebenzia, rebateu as acusações de que as negociações fossem urgentes. Na sexta-feira, ele já havia dito que era necessário um cessar-fogo “factível”.

Exclusões ao cessar-fogo para os combates contra os grupos extremistas Estado Islâmico e Al-Qaeda foram contempladas. A pedido de Moscou, também incluem “outros indivíduos, grupos, entidades, associados com a Al-Qaeda e o EI, bem como outros grupos terroristas designados pelo Conselho de Segurança”.

Essas exclusões podem dar margem a interpretações contraditórias, uma vez que Damasco descreve como “terroristas” os rebeldes apoiados pelo Ocidente, apontam observadores.

O respeito ao cessar-fogo é, portanto, incerto.

Após um pedido por garantias feito pela Rússia, o Conselho planeja se reunir novamente sobre esse assunto em 15 dias para analisar se o cessar-fogo está sendo devidamente implementado.

Além disso, a resolução “exige o levantamento imediato do cerco a áreas habitadas, incluindo Ghuta Oriental, Yarmuk, Fua e Kefraya”.

O desenvolvimento de um texto pelo Conselho de Segurança se revelou difícil, com o Kuwait e a Suécia procurando evitar um novo veto russo.

Enquanto isso, o cerco a Ghuta Oriental, reduto rebelde nos subúrbios de Damasco, piorou. Mais de 500 civis foram mortos em sete dias nos ataques do regime neste enclave.

Nas últimas duas semanas, nenhum membro do Conselho de Segurança tomou qualquer iniciativa para tentar pôr fim ao “inferno na Terra”, nas palavras do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.

A pressão internacional tardia ocorreu somente nas últimas 48 horas.

– Nova Aleppo –

A situação em Ghuta Oriental é uma reminiscência do que aconteceu em dezembro de 2016 em Aleppo. A Rússia também ganhou tempo antes de as Nações Unidas contribuírem para o fim do cerco a esta cidade e sua evacuação.

O embaixador sírio na ONU, Bashar Jaafari, fez essa comparação na quinta-feira. “Sim, Ghuta Oriental se tornará um novo Aleppo”, afirmou.

Mais de 13,1 milhões de sírios precisam de assistência humanitária atualmente, incluindo 6,1 milhões de deslocados internos desde o início da guerra civil há sete anos. O conflito matou mais de 340 mil pessoas, para não mencionar os feridos e os desaparecidos.

Em uma semana, a campanha de ataques aéreos do governo sobre Ghuta Oriental deixou 513 mortos, entre eles 127 crianças, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.

O OSDH informou que, neste sábado, pelo menos 35 civis morreram em ataques, incluindo oito menores. Foi uma noite de duros bombardeios que afetaram bairros residenciais, relatou a ONG, apontando forças russas e sírias como responsáveis pelos ataques.