Um economista australiano que durante muito tempo foi conselheiro da ex-dirigente birmanesa Aung San Suu Kyi, acusado de tentar sair de Mianmar com informações sensíveis após o golpe de Estado, compareceu nesta quinta-feira (23) a um tribunal.

Sean Turnell, professor na universidade australiana de Macquarie, foi detido nos dias posteriores ao golpe militar executado em 1º de fevereiro contra Aung San Suu Kyi, vencedora do prêmio Nobel da Paz em 1991.

Detido desde então na penitenciária de Insein, em Yangon, ao lado de vários presos políticos detidos nos últimos meses, ele parecia “frágil e cansado” no tribunal, afirmou Khin Maung Zaw, advogado que acompanhou a audiência.

Em julho, a esposa de Turnell pediu sua libertação, preocupada com sua saúde, em um momento de alta dos casos de covid-19 no país.

As acusações apresentadas contra Sean Turnell não foram divulgadas oficialmente, mas a imprensa estatal afirmou que ele teve acesso a “informações financeira secretas do Estado” e tentou fugir do país.

O golpe de Estado de fevereiro acabou com um breve intervalo democrático de uma década e deixou Mianmar em um cenário de caos.

Os militares executaram uma repressão violenta dos opositores, com mais de 1.100 civis mortos e quase 7.000 detidos, segundo a Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP), uma ONG local que reportou casos de tortura, abusos e execuções extrajudiciais.

A junta militar afirma que o balanço é muito menor.

Aung San Suu Kyi, de 76 anos, está em prisão domiciliar há quase oito meses e vários processos foram abertos contra ela.

Suu Kyi é julgada por incitação a perturbar a ordem público, violação das restrições sanitárias relacionadas com a covid-19, importação ilegal de walkie-talkies e sedição.

A partir de 1º de outubro também será julgada pela acusação de corrupção.

Se for considerada culpada, ela pode ser condenada a uma longa pena de prisão.

O exército justificou o golpe alegando fraudes nas legislativas de novembro do ano passado, vencidas com folga pelo partido de Aung San Suu Kyi.

Depois de anular os resultados das eleições, os militares prometeram organizar uma nova votação até 2023.