NILTON FUKUDA

Ser um país continental traz muitas vantagens quando o assunto é a gastronomia. Dos frutos do mar às especiarias da Amazônia, passando por carnes de altíssima qualidade, o Brasil oferece uma diversidade cada vez mais reconhecida por críticos e pelo público. A maior prova desse sucesso é o resultado da The World’s 50 Best Restaurant, lista produzida pela revista britânica Restaurant que elegeu seis restaurantes brasileiros entre os 100 melhores do mundo – dois deles na lista principal. A Casa do Porco, no centro de São Paulo, ficou em sétimo lugar; o Oteque, no Rio Janeiro, em 47°. Assim como as famosas estrelas do guia Michelin, o ranking da Restaurant é um bom termômetro para apontar quem tem se destacado no mercado global. Em primeiro lugar ficou o restaurante Gerânio, da Dinamarca, seguido pelo peruano Central, em Lima. O terceiro foi o espanhol Disfrutar, em Barcelona.

Inaugurado em 2015 pelo casal Jefferson e Janaína Rueda, a Casa do Porco é uma ode à cozinha caipira e, como diz o nome, tem a sua força nos pratos preparados com variações da carne suína. Ao focar no conceito “farm-to-table” (da fazenda à mesa), onde o cuidado com os ingredientes é feito desde a plantação em sítio próprio até chegar ao prato do cliente, o restaurante consegue manter o controle total sobre a qualidade de sua matéria prima. Na premiação, em Londres, o custo-benefício do local também foi destaque por ser acessível a vários bolsos, principalmente quando esse valor é convertido para moeda estrangeira.
O segundo brasileiro mais bem colocado foi o Oteque, do chef Alberto Landgraf, definido pelos jurados como um “templo da culinária moderna”. É apetitoso também para os olhos, pois a preparação dos frutos do mar é feita em um ambiente aberto ao público. Já o D.O.M, consagrado restaurante de Alex Atala, é um veterano da lista, da qual faz parte há mais de uma década. Seus ingredientes regionais únicos, como as famosas formigas amazônicas, tornaram o seu cardápio famoso no mundo inteiro.

Criatividade

Considerado por grande parte de seus colegas como “um embaixador da gastronomia nacional”, Atala se diz honrado com o apelido. “Há anos eu provoco que o Brasil precisava gerar novos chefs, uma geração dedicada a mostrar como a nossa cozinha é diversa, potente e rica. Hoje, conhecemos melhor a diversidade dos ingredientes, de chefs e de gêneros gastronômicos de norte a sul do País”, diz. O responsável pelo D.O.M. salienta, entretanto, que o turismo gastronômico ainda precisa se estruturar para se estabelecer com sucesso no Brasil, apesar dos diversos representantes na lista. O crítico Carlos Dória, aponta esse mesmo desafio. “Os rankings são bons para o marketing e garantem merecida visibilidade, mas os locais ainda estão restritos ao eixo Rio-São Paulo”, diz Dória. “Aqui ainda não acontece como na França, onde é possível encontrar bons restaurantes em qualquer viagem ao interior”.

CHEF Alberto Landgraf, do Oteque: “um templo da culinária moderna” (Crédito: Ana Branco)

O restaurante Evvai, do chef Luiz Filipe Souza, aparece na 67ª posição. Destaca-se, segundo a lista, pela “excelente carta de vinhos e coquetéis clássicos e criativos”. O Lasai, no Rio de Janeiro, do chef Rafa Costa e Silva, possui o que poucos conseguem: um endereço tombado pelo patrimônio histórico e com vista para o Cristo Redentor. O Maní, de São Paulo, que está na 96ª posição, é liderado por Helena Rizzo, que já foi reconhecida como a melhor chef feminina do mundo. Hoje ainda é uma celebridade como uma das apresentadoras do Masterchef, programa de sucesso entre os amantes da cada vez mais premiada culinária brasileira.

Onde foi parar a mostarda?

Vendida em frascos ou garrafas, a mostarda está cada vez mais ausente das prateleiras dos supermercados por uma combinação de fatores: guerra da Ucrânia, um dos maiores produtores da semente de mostarda do mundo, clima desfavorável, que estraga as safras, e a inflação, que fez o produto ficar mais caro. Os grandes chefs da França e Canadá, países que usam o molho como base para várias receitas tradicionais, são os que mais têm sofrido com o sumiço do produto.

Mathieu Thomasset