Dennis Rodman sempre trouxe um brilho diferente para as quadras de basquete. Com uma nova cor de cabelo a cada jogo, tatuagens distintas para a sua época e um empenho defensivo fora do comum, o pentacampeão da NBA chegava a ofuscar até Michael Jordan no Chicago Bulls, com quem dividiu os vestiários por três temporadas de sucesso. Agora o holofote está em sua filha, Trinity, mas nos gramados do futebol.

A garota de 21 anos, a mais jovem de três herdeiros de Dennis, faz parte da seleção dos Estados Unidos, que estreia na Copa do Mundo feminina nesta sexta-feira, diante do Vietnã. As norte-americanas querem o quinto troféu do Mundial. O time comandado por Vlatko Andonovski chega embalado ao torneio, com sete vitórias consecutivas, sendo a mais recente diante do País de Gales, com dois gols de Rodman. A atacante, que se tornou a mais jovem a marcar duas vezes por sua seleção, enxerga algumas semelhanças entre o seu jogo e o do pai.

“É a caça. A caça pelo gol, a caça quando perde a bola. Isso é uma grande parte do meu jogo (que se assemelha a Dennis). Mesmo quando ele não era o mais próximo da cesta ou quando estava perto do Shaq (Shaquille O’Neal), que era muito maior que ele, conseguia o rebote. Era o tempo, antecipação, movimento de corpo, posicionamento, isso era tudo. Ele era muito inteligente e as pessoas tiram isso dele. Ele era um atleta insano, mas um dos jogadores mais espertos do esporte. Ele conhecia o jogo”, afirmou Trinity.

A relação dos dois, no entanto, não é um caminho de flores. Dennis foi um pai pouco presente e deixou a educação da filha com a mãe, Michelle Moyer, a sua terceira mulher, com quem teve mais um filho, “DJ” Rodman. A outra filha é Alexis, hoje com 35 anos, fruto de seu primeiro casamento, com Annie Bakes.

Em seu documentário realizado pela ESPN, na série 30 por 30, Dennis diz que batalha seus demônios internos até hoje e um de seus maiores arrependimentos é não ter participado do dia a dia de Trinity, com quem se reaproximou anos mais tarde. Porém, a jogadora diz não ter recebido nenhuma mensagem do pai em sua convocação para a Copa.

“Eu já superei tudo isso. Eu sei que ele está orgulhoso de mim. Ele tem suas próprias coisas para resolver, mas no final, ele me disse que sabia que eu estaria aqui, e isso é tudo o que eu preciso”, afirmou Trinity. “Meu sobrenome sempre foi um fator, especialmente antes de eu criar o meu próprio caminho, sempre houve expectativas e perguntas antes de eu me provar, mas a minha mãe me ajudou muito a sintonizar isso e ser algo sobre a minha família e meu sucesso.”

Para o diretor-técnico Sandro Orlandelli, que trabalhou por mais de uma década no Arsenal, no Manchester United e na seleção brasileira, o caso de Trinity é frequente no futebol e a pressão de um filho de ex-jogador é gigantesca, podendo atrapalhar o caminho de atletas promissores.

“Por diversas vezes me deparei com filhos de jogadores com conquistas de títulos mundiais. O filho pode ter sido até um bom jogador, mas com características diferentes, e a cobrança imensa acontece justamente por isso, não ter a característica do pai e não chegar em seu sucesso. Mas ele pode ter um sucesso, dentro de suas capacidades. É tão difícil ser filho de um jogador de renome quanto um jogador que não tenha nenhum respaldo para entrar no meio. São linha tênues e ambas com muitas dificuldades”, afirmou Orlandelli.

Trinity Rodman pode continuar fazendo história se vencer a Copa do Mundo. A camisa 20 é a segunda mais jovem do elenco americano, atrás apenas de Alyssa Thompson, de 18 anos, que pouco é acionada nos jogos. ELa, porém, é protagonista, e a imprensa local pede sua presença como titular absoluta na equipe. O comandante Andonovski ainda não definiu sua escalação principal.

O EA FC, jogo de futebol da EA Sports, utilizou a imagem de Trinity Rodman para anunciar sua próxima versão, onde homens e mulheres jogarão juntos no famoso modo Ultimate Team. Além dela, estão na ilustração Pelé, Ronaldinho Gaúcho, Zidane, Riquelme e Cruyff, entre outras personalidades.

O pontapé inicial para a vida profissional de Trinity aconteceu em janeiro de 2021. Na época estudante da Universidade de Washington State, a jovem de apenas 18 anos foi selecionada em segundo no Draft pelo Washington Spirit, da NWSL, liga de futebol feminino dos Estados Unidos.

Sua estreia no profissional aconteceu poucos meses depois, em abril, contra o North Carolina Courage. A jovem precisou de apenas cinco minutos em campo para marcar o seu primeiro gol da carreira e ter os olhos do mundo voltados para si.

A primeira convocação veio apenas com 19 anos, na partida diante da República Checa, no início de 2022. De lá para cá, mais 18 chamados, quatro gols e três assistências.

IRMÃO JOGARÁ COM FILHO DE LEBRON JAMES

Dennis Thayne Rodman, o DJ, irmão mais velho de Trinity, segue os passos do pai e poderá chegar à NBA em breve. O armador de 22 anos e 1,98m acaba de assinar com a universidade USC, da Califórnia, que disputará a temporada da NCAA.

A equipe é a mesma de Bronny James, o filho de LeBron, estrela do Los Angeles Lakers. É bem provável que os dois Trojans estejam no Draft da NBA em 2024. LeBron já afirmou que vai jogar com o filho, não importando a equipe que o selecionar. A família Rodman também poderá continuar seu legado não só nos gramados, com Trinity na Copa do Mundo, mas também no maior palco do basquete.