Eleição presidencial no Chile opõe candidata de Boric e três da direita neste domingo

Disputa tem ênfase na pauta de segurança pública e indica um país polarizado

REUTERS/Rodrigo Garrido
Jeannette Jara Foto: REUTERS/Rodrigo Garrido

A eleição presidencial de 2025 no Chile será realizada em 16 de novembro, com expectativa de que nenhum candidato consiga maioria absoluta já no primeiro turno, o que abriria caminho para um segundo turno em 14 de dezembro. A disputa é marcada por forte polarização entre a esquerda e a direita, com candidatos tanto de linha conservadora como de extrema-direita quanto de direita tradicional.

A candidata da aliança governista, Jeannette Jara, venceu em junho nas primárias da coalizão “Unidade por Chile” com cerca de 60,3% dos votos, consolidando-se como a representante da esquerda no pleito presidencial. Nas pesquisas mais recentes, Jara lidera com aproximadamente 26% a 30% das intenções de voto para a primeira volta. Do outro lado, José Antonio Kast aparece em segundo lugar nas pesquisas, favorecido por uma agenda dura de segurança e combate à imigração.

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Conheça os principais candidatos da eleição no Chile:

Jeannette Jara

Jeannette Jara – AFP

Jeannette Alejandra Jara Román, de 51 anos, está no Partido Comunista desde os 14 anos ­- começou sua militância nas juventudes comunistas. Nascida em El Cortijo, um bairro modesto no norte de Santiago, trabalhou desde jovem, inclusive na colheita de frutas, e mais tarde estudou administração pública e direito. Foi líder estudantil na Universidade de Santiago e tem perfil sindical e de diálogo.

Como ministra do Trabalho no governo de Gabriel Boric (2022–2025), Jara liderou reformas significativas: conseguiu aprovar a redução da jornada semanal de trabalho de 45 para 40 horas e promoveu uma reforma do sistema privado de pensões. Na lei das 40 horas, há cláusulas que permitem negociar semanas de trabalho mais curtas com três dias de folga, sem reduzir salários.

Embora faça parte do Partido Comunista, Jara é associada à ala mais social-democrata da legenda, discordando de posições mais ortodoxas. Ela se destaca por seu estilo pragmático e aberto ao diálogo, como demonstra seu discurso de que “nem todos pensam igual, nem todos se amam igual, mas isso não deixa de ser família”.

Em sua plataforma presidencial, Jara não apenas foca em políticas sociais, mas também coloca a segurança pública como prioridade desde o primeiro dia, propondo maior controle migratório – uma posição que surpreende por ser mais típica de discursos de direita, segundo analistas. Sua campanha argumenta que a esquerda deve assumir seriamente a questão da segurança, sem replicar os modelos autoritários, e construir soluções plurais.

José Antonio Kast

José Antonio Kast – AFP

José Antonio Kast é político de direita radical, líder do Partido Republicano, e já foi candidato presidencial em pleitos anteriores. Sua campanha atual aposta fortemente na pauta de segurança pública, combate ao crime organizado e controle rigoroso da imigração. Kast refaz discursos de ordem e mão dura, inspirando-se em líderes populistas como Donald Trump, Nayib Bukele e Viktor Orbán.

Kast é frequentemente descrito como “pinochetista”: ele elogia publicamente aspectos do regime de Augusto Pinochet, já disse que “se Pinochet estivesse vivo, votaria em mim” e afirmou em campanha que “teríamos tomado um chá juntos no palácio de La Moneda.” Seu pai é Michael Kast, imigrante alemão. Investigações mostraram que Michael Kast foi membro do Partido Nazista na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.

O candidato tem sido apontado por analistas como o favorito para vencer um eventual segundo turno, especialmente se conseguir capitalizar as preocupações com a violência e a migração.

Johannes Kaiser

Johannes Kaiser – AFP

Johannes Maximilian Kaiser é deputado, youtuber e fundador do Partido Nacional Libertário (PNL). Ele representa a ala mais radical da direita, com discurso libertário, ultraconservador e antiglobalista. Kaiser propõe reduzir drasticamente o Estado, cortar impostos, e até retirar o Chile de acordos internacionais como o Acordo de Escazú, a Agenda 2030 e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Em matéria de segurança, ele defende reformas profundas no Judiciário, reativação do serviço militar e endurecimento penal; até propôs a pena de morte para crimes graves como sequestro.

Além disso, Kaiser causou polêmica ao afirmar que apoiaria um novo golpe de Estado semelhante ao de 1973 se eleito. Em entrevista recente, ele também não descartou convocar um plebiscito para “fechar o capítulo” da ditadura chilena. Sua candidatura agrada a segmentos ultraconservadores.

Evelyn Matthei

Evelyn Matthei – AFP

Evelyn Rose Matthei Fornet é uma veterana da política chilena: já foi senadora, ministra do Trabalho e prefeita de Providência. Ela representa a direita mais tradicional, com vínculos ao partido UDI e à coalizão “Chile Vamos”. Nas pesquisas, Matthei aparece atrás de Jara e Kast, mas tem mantido sustentação significativa, em parte por sua experiência e perfil institucional. Sua campanha combina propostas econômicas de mercado com discurso de ordem, embora seja vista como mais moderada em comparação com Kast e Kaiser.