SÃO PAULO, 09 OUT (ANSA) – Passada mais de uma semana do plebiscito separatista na Catalunha, a comunidade autônoma ensaia declarar sua independência da Espanha, no ápice de uma crise que afastou Madri e Barcelona de maneira quase irreconciliável. Mas como a situação se agravou a tal ponto? Veja abaixo os três pilares do desejo separatista que floresce em parte do povo catalão: História – Com idioma próprio, a Catalunha é uma região com forte identidade cultural, mas nunca foi um país independente.
No entanto, até 1714, contou com um governo relativamente autônomo, situação que mudou com a vitória dos Bourbon na guerra de sucessão de Carlos II, o último representante da Casa de Habsburgo.
Com a capitulação de Barcelona, a Casa Bourbon, a mesma do atual rei da Espanha, Felipe VI, impôs seu modelo de Estado centralizador, contrastando com o sistema multiétnico e multilinguístico dos Habsburgo. O século seguinte marcou um forte crescimento do sentimento nacionalista catalão, que ganhou espaço com o advento da República, em 1931, quando a região recebeu mais autonomia de Madri.
Contudo, a Catalunha, bastião do antifranquismo na Guerra Civil Espanhola, perdeu todos os seus privilégios durante o regime de Francisco Franco, que adotou medidas severas para restringir o idioma e a cultura da região.
A Constituição democrática de 1978 devolveu um certo nível de autonomia à Catalunha, que dispõe de polícia própria e instituiu o catalão como seu idioma oficial, assim como o espanhol. Ainda assim, as cicatrizes do franquismo permanecem até hoje, com os separatistas atribuindo o modelo de “Estado unitário” ao período da ditadura.
Economia – Em geral, movimentos independentistas possuem um forte fator econômico, e no caso da Catalunha não é diferente. A comunidade autônoma é a mais rica da Espanha e representa 19% de seu Produto Interno Bruto (PIB), beneficiando-se de um mundo globalizado e da integração europeia para não depender do mercado nacional.
Com a crise de 2008, o governo central promoveu cortes na rede de bem-estar social do país e políticas de austeridade que fomentaram um desejo separatista antes restrito a um quinto da população catalã. Ainda que a comunidade autônoma tenha se saído melhor do que outras regiões durante a crise, os independentistas alegam que estariam em uma situação mais favorável se Barcelona tivesse plena autonomia para administrar seus impostos.
Atualmente, a Catalunha abriga cerca de 7 mil multinacionais e uma renda per capta de 27,6 mil euros, contra 24,1 mil da média espanhola. Já a taxa de desemprego está em 13,2%, enquanto no país o índice é de 17,2%.
Política – O desejo de viver sem os limites impostos por Madri também é um dos pilares do anseio separatista na Catalunha, sentimento que cresceu com as constantes recusas do primeiro-ministro Mariano Rajoy em aceitar um plebiscito de independência.
A Constituição da Espanha concede ampla autonomia em matérias como educação, saúde e segurança, mas limita as competências regionais em termos fiscais. Ou seja, limita a capacidade da Catalunha de administrar seus próprios recursos. (ANSA)