Considerada a maior do mundo, a onda de Nazaré vem sendo desbravada a cada temporada pelos surfistas mais destemidos do planeta. Mas desta vez um brasileiro superou todo os limites ao descer aquela montanha de água com um skimboard, que antigamente era conhecida carinhosamente por “sonrisal”. Aquela pranchinha redonda de madeira sofreu adaptações com o tempo e hoje se assemelha mais com uma prancha comum, porém menor.

E foi com ela que o carioca Lucas Fink, de 23 anos, pegou uma onda estimada em quase 60 pés. “Nas medições que fizemos ela teria entre 17 e 18 metros de altura”, conta o surfista, que tempos depois ainda surfou uma outra que ela acredita que deve superar esta. “Ainda estão medindo, mas acredito que tenha sido maior”, diz.

A façanha não pode ser dimensionada apenas pelo tamanho da onda, mas também pelo equipamento utilizado para deslizar no mar. Se os surfistas costumam usar pranchas pesadas, com quilhas e alças para prender os pés, Fink optou por usar seu skimboard da maneira como está acostumado. “A quilha para mim é tipo uma âncora, me segura”, afirma.

Lucas Chumbo, um dos grandes incentivadores na empreitada e reconhecido como um dos melhores surfistas de ondas grandes do mundo, garante que o nível de dificuldade é enorme. “Eu surfo lá em Nazaré com três quilhas, prancha grande e com o pé bem preso nas alças. Não sei como ele consegue ficar em pé. Mas ele não quer colocar alça para não perder a essência do skimboard”, explica.

Chumbo faz uma comparação inusitada. “Surfar uma onda gigante é como um trem sem freio descendo a ladeira em alta velocidade. No meu caso tem trilho. Com o skimboard é como se estivesse sem trilho, ou seja, ele só sobrevive por causa do talento”, afirma o especialista. “Todo mundo fala que ele é maluco e que eu sou mais maluco por incentivá-lo”, continua, rindo.

Para encarar tal desafio, Fink teve uma preparação específica para lidar com as ondas gigantes. Fez curso de apneia e de pilotagem de jet-ski. Também treinou bastante a parte física e mental. “É preciso se preparar muito, a gente é maluco, mas consciente. Tornamos realidade o sonho que parecia impossível”, afirma.

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No litoral português, Nazaré costuma receber durante as temporadas de ondas grandes (inverno no Hemisfério Norte) surfistas de diversas partes do mundo para encarar essa temida onda. Os atletas se aperfeiçoaram na logística e tem uma boa comunicação por rádio, o que ajuda em possíveis resgates e salvamentos. Até pela ousadia da missão, o brasileiro foi o primeiro a fazer isso naquela praia.

“É um equipamento que não é adequado para fazer aquilo, então desafia a lógica. Essa prancha é feita para você deslizar e pegar as ondas pequenas na areia. É leve, não tem quilha, então ela desliza muito, e isso torna mais difícil para controlar. São vários fatores que fazem com que não seja muito favorável você pegar ondas grandes com ela, mas para mim só faz sentido fazer isso com a prancha de skimboard, que é aquela que estou mais conectado, que tenho mais confiança, que amo usar. É praticamente uma extensão do meu corpo. No início eu me questionava se iria dar certo. Vi que é possível e que dá até para ir além.”

A grande inspiração de Fink foi Brad Domke, que mostrou que era possível usar o skimboard para surfar ondas maiores. “Ele foi um pioneiro, me motivou e vim com o objetivo de aprender e ir além. A ideia é dar continuidade e tenho certeza que vai vir uma geração depois, se inspirando nos nossos feitos. Estou mostrando que é possível e quero deixar um legado”, diz Fink.

O garoto cresceu assistindo às façanhas de seu ídolo Domke e espera agora servir de inspiração para outros. Ele já foi campeão mundial uma vez no skimboard e espera repetir o feito esse ano. E ainda pretende voltar para Nazaré e tentar surfar outras ondas extremas, como Jaws, Mavericks e Teahupoo. “Para realizar essas coisas extremas, precisa estar 100% presente naquele momento. Penso só em completar aquilo, é muita adrenalina”, avisa, falando que é preciso muito foco para descer uma onda gigante em uma “pranchinha”.


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