20/06/2023 - 16:03
A arte para nos levar para uma outra dimensão, para permitir uma profunda reflexão e para ser o canal de comunicação para um discurso social mais amplo. Com essa crença o ‘artivista’ Duda Penteado anuncia esta semana mais um de seus projetos. Ele vive entre os Estados Unidos e o Brasil há quase trinta anos e tem uma obra mutável e intuitiva, capaz de levar para o mundo a essência do Brasil.
Duda trabalha com performance, vídeo, instalações, murais, esculturas, pinturas e outras práticas visuais. Nos últimos anos, dedicou grande parte de seu trabalho a importantes questões: paz, globalização, diáspora, dupla cidadania e outros fenômenos geopolíticos e sociais do século XXI. Explora o ‘artivismo’ (arte e ativismo) como ponte para experiências criativas que envolvem questões sociais da atualidade. “A arte não propõe respostas simples, mas perguntas importantes, trazendo discussões e diálogos interconectados com as principais temáticas do mundo contemporâneo”, diz ele.
A paixão começou na infância. Filho do economista Aluízio Penteado, professor da FEA – USP, e da pedagoga Jane Penteado, supervisora do ensino Público da cidade de São Paulo, Duda Penteado (Eduardo Henrique Pontes de Oliveira Penteado) teve uma educação voltada para valores humanos e uma forte ligação com expressões da cultura.
O exemplo familiar foi fundamental na construção de uma ligação entre arte, sociedade, política e educação, presente em toda a carreira como artista.
Influenciado pelo tio arquiteto, Hélio Penteado, pensou em seguir o mesmo caminho, mas estudou comunicação FIAM em São Paulo e decidiu mergulhar no universo da arte. Começou sua trajetória orientado pelo artista contemporâneo Elias Muradi e se deu conta, quando ainda era jovem, da dimensão transformadora da arte, pensando na sua existência como necessidade de abstração e de transcendência de uma condição de miséria humana que nos assola sob múltiplos aspectos. Estava ali esboçado o início de um tratamento estético e ético, que imprime um caráter social à sua produção artística como um todo.
Em 1996, foi para Nova York e acabou construindo sua carreira artística nos Estados Unidos, depois de passar por todos os perrengues comuns a brasileiros. Como tudo na vida sempre há algo muito bom, o trabalho na área de impressão o aproximou de artistas como Chuck Close, Helen Frankenthaler e Kenny Sharf. Mas sua vida começou a mudar quando recebe a bolsa integral do Vermont Studio Center, o maior programa dos Estados Unidos de artistas residentes. Em meio a múltiplas experiências educacionais, Duda trabalhou com projetos sociais voltados a crianças e jovens em situações de exclusão, particularmente com o Jersey City Museum e, a New Jersey City University em Jersey City, New Jersey, onde vive hoje.
Experiências micropolíticas da vida de artista o levaram à consciência de sua condição de ‘exilado voluntário’, com olhar do estrangeiro para criar inquietude em sua obra. Nesse momento, o mito do American Way of Life já não existia mais e ele começou a procurar o brasileiro que existia dentro dele, dando visibilidade para dimensão micropolítica de seu trabalho, direcionando suas energias para questões mais específicas e cotidianas da sociedade.
Com o posicionamento artivista, Duda Penteado sentiu a necessidade de mergulhar nas raízes de sua brasilidade e passou também a estudar a cultura indígena. Passou dez dias no Xingu em Mato Grosso, na tribo Mehinako durante as festividades do Kuarup. Lá, percebeu que ninguém se considerava ‘dono da terra’ e o entendimento era de ocupação transitória de um lugar que fornece proteção e alimento. Nessa imersão, recebeu o nome indígena de ‘Tuta Aluakuma’.
Ao se colocar no contexto do outro passou a entender melhor o contexto contemporâneo, tornando a experiência tribal um componente de sua arte. Com isso, reforça a ideia de que a arte é um importante veículo de discussão, capaz de deixar um manifesto de reflexão. Para o artista, nunca houve um momento mais urgente para a criação de arte provocativa a respeito de temas tão significativos para o Brasil e para o mundo. Ele destaca que a arte é um reflexo de um pensamento crítico e, portanto, precisa estar ligada e ter uma consciência filosófica sobre o que está acontecendo. “O Brasil não pode perder a sua história”, diz.
Agora, as “Linhas Tribais, Art – Installation” chegam ao Brasil como resultado de mais de duas décadas de pesquisas sobre a Amazônia e as tribos do Xingu. Traços viram intervenções artísticas criadas para serem feitas nas mais diversas superfícies como vasos, tecidos, murais, paredes de edifícios e outras infinitas possibilidades. As instalações de Linhas Tribais apresentam o “artivismo” de Duda junto ao público brasileiro, aproximando os espectadores de temas atuais e contemporâneos e explorando suas conexões socioculturais. Essa evolução da linguagem expositiva abrirá oportunidades preciosas para o público embarcar em uma imersão de conceitos, ideias e reflexões inéditas sobre o impacto da arte em nossa sociedade contemporânea cada vez mais globalizada.
O projeto é uma imersão de resgate do conhecimento ancestral humano, relembrando a arte dos povos originários do Brasil que pintavam usando apenas a luz do fogo nas cavernas. A primeira aparição das obras foi na semana do Art Basel em Miami no ano passado. Depois do Brasil, seguirão para outros locais, começando por Dallas.
Em Linhas Tribais, Duda reconhece a arte indígena como uma forma de expressão cultural rica e importante. O artista cita Mário Pedrosa como inspiração: “Em países como o nosso, (…) quando se diz que sua arte é primitiva ou popular vale quanto dizer que é futurista”.
Sobre suas instalações, o artista comenta que elas são criadas como “uma poesia com uso de uma linguagem que se adapta ao ambiente que a instalação dá vida, sendo cada uma, um poema que reescreve na hora”. O objetivo é provocar o espectador para refletir e não somente apreciar a obra de forma passiva.
“Se identificar como um artivista é pensar em obras que entrem em contextos sociais, é prezar por projetos que façam parte de um ecossistema sociocultural, provocando um impacto na sociedade. Estou preocupado com todas as camadas estruturais do projeto das intervenções, desde quem participa do patrocínio, até quem faz a tinta usada”, Duda Penteado.
Duda Penteado já realizou muitas exposições em galerias, instituições culturais e museus nos Estados Unidos, Brasil e Europa. Entre as realizações do artista estão projetos, palestras, exposições e murais em universidades e instituições tais como Jersey City Museum (EUA), Biennale Internazionale Dell’Arte Contemporanea (Firenze – Itália), Monique Goldstrom Gallery (Nova Iorque), The Museum of Art and Origins (Harlem – NYC, BACI-The Brazilian American Cultural Institute (Washington), Museo de Las Américas (Denver), CITYarts 272nd Mural, “Nature is Love on Earth” (Nova Iorque), Brooklyn College (EUA), Monmouth Universit (West Long Branch- EUA), Stevens Institute of Technology (New Jersey), Drew University (New Jersey), Middlebury College (Vermont – EUA), UFES- Universidade Estadual do Espírito Santo (Vitória – Brasil), UNESP-Universidade Estadual Paulista (SP), SESC – SP , MAC- Museu de Arte Contemporânea de Niterói (RJ), Museu – Afro Brasil (SP), Facebook Art Project Exhibition (NYC) e Kerr Gallery (Miami Design District – EUA).
Sua lista de prêmios também é grande e inclui reconhecimentos de instituições como Urban Artist Fellowship Award no Vermont Studio Center, Goldman Sachs Student Art Project Grant, Geraldine R. Dodge Foundation, Special Guest for Artistic Achievement & Commitment to YMCA Greater, American Graphic Design Award, Interactive Multimedia Installation, Humanitarian Award from the Hudson County Chapter of the American Conference on Diversity, Kappa Pi International Honorary Art Fraternity – Eta Rho, New Jersey City University Chapter e The Jewel of JK “Juscelino Kubitschek Award at United Nations. Se tiver uma boa história para compartilhar, aguardo sugestões pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou no Twitter.