Pela beleza das trilhas na Serra da Cantareira, mais o interesse da Warner Bros. Discovery (WBD) pela imensa audiência que o mountain bike garante com os brasileiros, Mairiporã foi escolhida para cenário da abertura da Copa do Mundo de XCO, a categoria olímpica dessa modalidade. São esperados 318 atletas, representando pelo menos 25 países, para as provas entre a quinta-feira 11 e o domingo 14, no Arena iMTB Bike Park.

E as disputas não serão só pelo pódio, mas também por pontos no ranking da Union Cycliste Internationale, que determinam parte das vagas para a competição em Paris. Com tamanho interesse, os hotéis na cidade e ainda em Atibaia e Bragança foram rapidamente ocupados, segundo Fabio Caldeo, responsável pela organização do MTB Festival (já há um “esquenta” neste fim de semana) e também por essa primeira etapa da World Cup Series 2024 da UCI. Uma segunda onda de espectadores é aguardada, para lotar acomodações da Zona Leste de São Paulo e na cidade de Guarulhos, porque ao menos 30 mil pessoas devem acompanhar ao vivo os melhores do mundo do mountain bike.

A modalidade foi criada por ciclistas da Califórnia que, nos anos 1970, deixaram velódromos e estradas para se aventurarem por trilhas, fomentando a produção de bicicletas especialmente desenhadas para terrenos acidentados, que se tornou uma indústria de ponta em duas décadas. Em Atlanta 1996, o MTB entrou para o programa olímpico, atraindo fãs das provas com obstáculos desenhados na natureza, para saltos espetaculares em pistas de seis quilômetros.

Mas, já pelos anos 1980, o brasileiro Mazinho Bender se interessava pela novidade, ao mesmo tempo em que praticava asa-delta e motocross na região de Mairiporã, e passou a improvisar bicicletas para trilhas a partir de artigos em revistas de Tom Ritchey e Gary Fisher, precursores no desenvolvimento de componente em série para as bikes reforçadas.

Hoje, segundo Fabio Caldeo, há modelos de pelo menos R$ 100 mil para competição e R$ 3 mil para lazer, que contam com a Inteligência Artificial para “ajustar” suspensões dianteiras e traseiras durante o percurso, enviando dados a celulares para análise posterior “do rolê”.

Depois de Bender, vários praticantes de ciclismo começaram a se mudar para a cidade e o “atestado” de Mairiporã como capital do MTB no Brasil se deu com as conquistas de seu morador Henrique Avancini, duas vezes campeão mundial na categoria maratona (não-olímpica) — em Val di Sole, na Itália, em 2018, e em Glasgow, na Escócia, em 2023.

Aposentado, o ciclista se tornou consultor técnico para a construção das mais recentes das 12 pistas do bike park, que recebe de 300 a 400 dos cerca de mil ciclistas que circulam pela cidade a cada fim de semana (Caldeo calcula um total de dois milhões de praticantes de MTB no País).

Conheça Mairiporã, a capital mundial do ciclismo
Beleza da Serra da Cantareira atrai até 400 ciclistas de mountain bike a cada fim de semana (Crédito:Divulgação )

O Brasil na fita

Foi justamente o interesse dos brasileiros pelas transmissões de mountain bike da Red Bull TV que chamou a atenção da UCI. Nada menos que 1,6 milhão desses telespectadores acompanha o MTB Festival, realizado anualmente em Mairiporã com o Campeonato Paulista incluído, o que corresponde a 68% da audiência internacional e coloca o Brasil como grande consumidor de MTB, como observa Fabio Caldeo.

Daí a decisão da UCI de abrir seu calendário para etapas aqui no País de sua Copa do Mundo (a World Cup Series). E, para “compensar” a vinda à América do Sul, depois da abertura do circuito em Mairiporã já haverá a segunda etapa, na mineira Araxá (de 19 a 21 de abril) — os ingressos, assim como vales de estacionamento, devem ser comprados antecipadamente pelo site mtbfestival.com.br.

Conheça Mairiporã, a capital mundial do ciclismo
Henrique Avancini (à esq.) se tornou consultor técnico das pistas do bike park de Fabio Caldeo (Crédito:Divulgação )

Apenas da WBD vêm 800 pessoas para a transmissão das competições de uma modalidade que tem o suíço Nino Schurter e a holandesa Puck Pieterse na liderança dos rankings mundiais masculino e feminino do XCO.

Mas os brasileiros terão a oportunidade de ver de perto as estrelas do MTB internacional antes da Olimpíada de Paris. Lá, as provas em 28 e 29 de julho serão na Colline d’Élancourt, região mais alta dos arredores da capital francesa — e também conhecida como “A Colina da Revanche”.