Nesta quarta-feira, o futebol deu mais um passo rumo ao fim do preconceito. Josh Cavallo, lateral-esquerdo de 21 anos do Adelaide United, time da Primeira Divisão da Austrália, se declarou homossexual em um vídeo publicado pelo próprio clube, que manifestou apoio ao atleta, um dos poucos assumidamente gays na modalidade. Engana-se, porém, quem pensa que o australiano foi o primeiro no mundo da bola ao falar abertamente sobre sua sexualidade. Há quase quatro décadas, Justin Fashanu rompia o silêncio sobre o assunto, o que lhe custou oportunidades na carreira.

Fashanu era uma estrela em ascensão no futebol inglês. Em 1981, o Nottingham Forest, então bicampeão da Liga dos Campeões, decidiu abrir o bolso e pagar 1 milhão de libras para tirar o atacante do Norwich City. Filho de pai nigeriano e mãe guianense, o jogador foi o primeiro negro a ser envolvido em uma transferência com altos valores.

Entretanto, o sucesso na nova equipe não se repetiu e mesmo com apenas 21 anos, Fashanu perdeu rapidamente o prestígio no Nottingham Forest. O atacante inglês se acostumou a conviver com um ambiente desagradável com os companheiros de equipe, que se incomodavam com o fato do atacante frequentar bares e boates gays. O apoio também não era encontrado na família. O irmão de Justin, John Fashanu, que também era jogador profissional, não aceitava o fato dele ser gay e chegou a oferecer dinheiro para o atleta não se assumir publicamente.

Depois de rodar por clubes como Manchester City, West Ham, além de outros de menor expressão no Campeonato Inglês, Fashanu assumiu publicamente sua homossexualidade em uma entrevista para o jornal The Sun em 1990, época na qual o estigma social com a comunidade gay estava era ainda maior. No entanto, as coisas não aconteceram da forma mais saudável para o jogador. Segundo o biógrafo do atleta, o tabloide inglês chantageou o atacante para que ele se assumisse, caso contrário, publicariam a matéria sem o seu consentimento.

Com a camisa do Leyton Orient, Fashanu passou a conviver com comentários homofóbicos dos companheiros de time e com a hostilidade das torcidas adversárias. Deixou a Inglaterra três anos depois para atuar em ligas menores, jogando na Suécia, Nova Zelândia e Canadá. Se aposentou em 1997 e se mudou para Maryland, nos EUA, onde decidiu iniciar a carreira de técnico.

Fashanu voltou aos holofotes pouco tempo depois de pendurar as chuteiras. Em 1998, um rapaz de 17 anos o acusou de agressão sexual após terem passado uma noite juntos. O atleta voltou para a Inglaterra enquanto as investigações seguiram nos Estados Unidos. No dia 3 de maio, ele cometeu suicídio, aos 37 anos, após visitar uma sauna gay em Londres. Seu corpo foi encontrado enforcado junto a um bilhete de despedida, no qual afirmava que a relação com o jovem havia sido consensual e dizia que não queria ser mais uma “vergonha” para a família.

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Mais de 20 anos após sua morte, Justin Fashanu segue como um dos poucos jogadores de uma liga de elite do futebol a ter assumido sua homossexualidade, mesmo que de maneira tortuosa. O atleta é lembrado como um dos principais símbolos da luta contra o preconceito no esporte, ganhando até mesmo uma campanha com o seu nome pelo combate à homofobia.


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