Conheça Hugo Motta, novo presidente da Câmara

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

“Desde criança, eu tomei café, almocei e jantei política”, disse Hugo Motta (Republicanos-PB) à agência de notícias da Câmara dos Deputados, em 2011. Essa foi uma de suas primeiras entrevistas como deputado federal eleito, aos 21 anos, o mais jovem da história ainda hoje. À época no PMDB, ele integrou um time de jovens de famílias de grandes figuras da política em seus Estados que começavam a carreira em Brasília – casos de André Fufuca (PP-MA), hoje ministro dos Esportes, e Renan Filho (MDB-AL), atual ministro dos Transportes. Agora, em seu quarto mandato, Motta sucede a Arthur Lira (PP-AL) no comando da Casa Baixa do Congresso Nacional.

O estilo conciliador no trato chamou a atenção dos mais longevos. “Eles fizeram um grupo jovem. Hugo, quando chegou, era carinhoso, meigo, não levantava a voz para ninguém, era muito bem articulado e prestativo. Ele conquistou todo mundo com esse espírito”, afirma o ex-deputado federal Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), um dos primeiros amigos que Motta fez na capital federal.

São essas qualidades, segundo deputados, ministros e senadores ouvidos pelo Estadão, que levam hoje o deputado do Republicanos a assumir a presidência da Câmara. Motta foi eleito com 444 votos neste sábado, 1.º.

“Ele tem uma capacidade de construir os discursos e articular de uma forma que protege todo mundo”, recorda Vieira Lima. “E ele é cumpridor de missão, também. Os caciques davam missão e ele cumpria. Ele é tido ainda como alguém que tem palavra e fazia as entregas acertadas.”

Motta se tornou deputado na primeira eleição que disputou na vida, em 2010, quando obteve pouco mais de 80 mil votos e conquistou uma cadeira pelo Estado da Paraíba. O “menino de Patos”, alcunha que referencia sua cidade natal, usada por ele em suas primeiras campanhas, ainda era um estudante de Medicina, curso que concluiu enquanto exercia as funções como parlamentar.

A vitória naquele ano muito se deve ao passado da família na política. Em seu primeiro discurso, ele lembrou de seu avô Edivaldo Motta (MDB-PB), deputado federal por dois mandatos, presente na Constituinte. Motta é filho do atual prefeito de Patos, Nabor Wanderley (Republicanos), e de Ilanna Motta, que exerceu cargos em Patos quando Francisca Motta, avó de Hugo, foi prefeita.

Em 2016, em Brasília, Motta ganhava cada vez mais destaque. Em janeiro, ele tentou, com o apoio do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), ser o líder do PMDB. Acabou derrotado por Leonardo Picciani (RJ) por apenas sete votos, após forte investida de integrantes do governo Dilma Rousseff (PT). Motta terminaria 2016 votando pelo impeachment da petista e se ausentando na votação pela cassação de Cunha.

Ao lado do pai, Hugo Motta trocou o MDB pelo PRB, atual Republicanos, em 2018. Ainda assim, mantém boas relações com emedebistas – Isnaldo Bulhões Júnior (MDB-AL), líder do partido, é uma das figuras mais próximas a ele e um dos seus principais articuladores.

Motta aproximou-se de outros relevantes políticos, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do Progressistas e ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro.

Para tornar-se o favorito com sobras para suceder a Arthur Lira (PP-AL) no cargo, Motta precisou construir o consenso entre o Centrão. No começo de 2024, pleiteavam a função Marcos Pereira (Republicanos-SP), Elmar Nascimento (União-BA) e Antônio Brito (PSD-BA).

Deputados novatos ouvidos pelo Estadão destacam a disponibilidade que ele teve para conversar com todos, a constante presença dele no plenário para dialogar e a disposição a pedir conselhos mesmo de quem estava começando a exercer função em Brasília.

“Conheci Hugo Motta na Câmara dos Deputados. Ele é muito presente no plenário, muito ciente das suas obrigações e responsabilidades. É uma pessoa muito cordata e diplomática e, por isso, conseguiu fazer essa conciliação com Lira em torno do seu nome, além de ser um jovem muito talentoso nas suas articulações políticas”, diz Léo Prates (PDT-BA), parlamentar que exerce o primeiro mandato.