Modelo e miss. Embora sejam consideradas profissões parecidas, têm papéis sociais bem diferentes – enquanto uma desfila e exibe roupas, acessórios e outros produtos, a outra representa a beleza por meio de concursos. Em comum, são profissões ligadas ao mundo da moda e da beleza, mas que por requer muita disciplina e dedicação, navegam em mares distintos, sendo raro conseguir ser e estar nesses dois universos. Gabriele Marinho consegue. Uma das poucas modelos a transitar entre o fashion – já foi estrela do desfile da Versace – e o mundo das misses, ela ainda é Miss Alagoas, e se prepara para disputar o título de Miss Brasil, entre os dias 14 e 20 de setembro, rumo ao Miss Universo, em novembro.
“Sempre fui apaixonada pelos dois universos”, diz ela. Assim, desde os 12 anos de idade, quando descobriu que se encaixava no perfil de modelo, acompanhava tudo relacionado a eles: sonhava participar de desfiles de moda, especialmente da Victoria´s Secret, ao mesmo tempo que não perdia um concurso de beleza de Miss na TV. “Fui atrás das oportunidades. Encontrei o telefone de uma agência em Maceió, para a qual pedi para a minha mãe ligar, e convenci meu pai a me deixar tentar, algo que só permitiu desde que não atrapalhasse meus estudos”, conta.
Com as devidas permissões, a menina que antes dividia seu tempo entre Barbies e tirar acordes da guitarra do irmão mais velho – ela tocava solos de Metallica e Nirvana – em pouco tempo, já despontava nas passarelas e campanhas de moda e beleza. Não demorou muito para alçar voos mais altos – teve um empurrãozinho de sua conterrânea Martha Medeiros, que a elegeu uma de suas musas em Alagoas e ingressou na agência Mega Models, uma das mais importantes do Brasil.
De Alagoas para o Mundo
“Naquela época, meu maior propósito era virar modelo”, afirma Gabriele. Mas não apenas por fama. Mesmo muito nova, era motivada por um enorme senso de justiça, e assim correu atrás de seu objetivo, não só para ganhar uma profissão, mas uma voz que representasse a mulher nordestina. “Sempre fui muito orgulhosa das minhas raízes e sei que tanto como modelo, como Miss, posso abrir caminhos para a diversidade e ajudar a transformar a vida de pessoas”.
Aprendeu cedo. Especialmente quando foi eleita Miss Teen World, em concurso realizado no Texas, nos Estados Unidos, após conquistar os títulos de Miss Teen Alagoas e Miss Teen Brasil, e teve seus primeiros contatos com trabalhos sociais e de voluntariado por lá.
De volta ao Brasil, não ficou esperando as oportunidades caírem do céu. Na agência, insistiu até que tentassem um contrato em Nova York. “Ninguém acreditava que eu conseguiria”, sorri. Mais uma vez, conseguiu. Lá, viveu três anos trabalhando intensamente em campanhas de beleza e desfiles de moda, inclusive na semana de moda nova iorquina.
Em 2020, porém, a pandemia da Covid-19 a fez voltar para o Brasil. “Vim passar o réveillon e não consegui embarcar para os Estados Unidos. E lá estava um caos, então resolvi ficar”. Com tudo fechado em isolamento, Gabriele, que nas horas vagas, gosta de jogar xadrez e ler William Shakespeare (1564-1616), decidiu prestar vestibular para ingressar na faculdade. Passou em Direito, na (Fundação Armando Álvares Penteado), onde cursa o terceiro período e colabora semanalmente com o projeto “Nutrindo Vidas”, que presta assistência social a famílias em situação de vulnerabilidade, em São Paulo, e do qual é madrinha. “Cuidamos de moradores de ruas, transexuais e até de animais como cachorros e gatos, em situação de rua”, diz.
Ao mesmo tempo, continuava envolvida em seus projetos de Miss, abrindo um importante caminho para a diversidade, a igualdade e a equidade de oportunidades, de acessos e de direitos, questões que vão de encontro com as vertentes de direitos humanos e direito internacional que ela estuda e investe. “Antigamente não tinha espaço para nordestinas. Os concursos eram sempre para mulheres do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. Estou feliz em representar Alagoas e o Nordeste”, completa.
E até hoje segue firme forte em seu propósito de, por meio de sua imagem e voz, fazer o bem. “Como modelo, como Miss, pelo Direito, sei que posso fazer a minha parte”, afirma Gabriele, que pretende seguir os passos da carreira jurídica em direitos humanos e direito internacional. Sobre o Miss Brasil, e quem sabe, o Miss Universo, ela é enfática: “Quero levar a voz do Brasil para o mundo”. Se pautar pela determinação da alagoana, já é missão cumprida.