CIDADE DO VATICANO, 17 JUL (ANSA) – Por Nina Fabrizio – O padre Gabriel Romanelli, pároco da Igreja da Sagrada Família, que ficou ferido no ataque israelense desta quinta-feira (17) na Faixa de Gaza, sempre pediu uma trégua e o retorno ao diálogo.
O religioso também foi uma das últimas pessoas a falar com o papa Francisco antes de sua morte. O pontífice argentino adquiriu o hábito de fazer uma videochamada todas as noites com a pequena comunidade cristã no enclave palestino.
A manobra, que nem todos entendiam os motivos, servia para proteger a comunidade dos bombardeios das Forças de Defesa de Israel (IDF) com sua presença constante e, acima de tudo, para garantir que os israelenses mantivessem a conexão de internet na região, de modo a não silenciar completamente as vozes de Gaza.
Após a morte de Jorge Mario Bergoglio, o contato direto de Romanelli com a liderança da Igreja Católica foi interrompido, mas as suas conversas com o Patriarcado de Jerusalém foram fortalecidas. Enquanto isso, o argentino, que vive no Oriente Médio há mais de três décadas e lidera a pequena, mas simbólica comunidade da Sagrada Família há cinco anos, continua postando fotos e vídeos nas redes sociais da paróquia, compartilhando com o mundo os momentos da vida dos refugiados.
Há poucos dias, Romanelli publicou um vídeo chocante mostrando fiéis participando da missa, atordoados pelo som dos bombardeios do lado de fora. Eles pensavam estar seguros dentro da igreja, mas tiveram hoje uma surpresa desagradável.
Em 7 de outubro, dia do ataque terrorista do Hamas, Romanelli estava fora da Faixa de Gaza, gerenciando a entrada de um carregamento de medicamentos e bens essenciais que, como tudo que entrava no enclave, precisava ser inspecionado pelas IDF.
Deportado, ele permaneceu preso em Jerusalém por meses.
As autoridades israelenses se recusaram por muito tempo a permitir seu retorno à Faixa de Gaza, o que levou a uma negociação secreta com o Vaticano, que insistiu que o pároco pudesse voltar a ficar com seus fiéis.
Após meses de idas e vindas, Romanelli retornou a uma comunidade agora reduzida a cerca de 500 membros, incluindo cerca de 50 pessoas com deficiência grave, cuidadas pelas Irmãs de Madre Teresa. Nos últimos dias, o padre também relatou a disparada dos preços dos alimentos no mercado negro.
“A farinha custa cerca de 18 euros o quilo, o tomate cerca de 23 euros e uma única cebola entre 12 e 15 euros. Um quilo de açúcar custa pelo menos 100 euros”, afirmou.
Em suma, uma voz preciosa para ressoar com uma população desesperada. Em 2023, a paróquia lamentou a morte de um músico idoso, Elham Farah, e um mês depois, os falecimentos de Nahida e Samar, mãe e filha, mortas em frente à Sagrada Família.
“Os outros cristãos mortos ainda são vítimas da guerra: são pessoas doentes que não puderam mais receber os medicamentos necessários”, recordou.
Hoje, apesar dos ferimentos sofridos em razão do bombardeio de Israel, Romanelli passou o dia ajudando os outros. (ANSA).