Em teoria, os museus deveriam expor todos os tipos de arte contemporânea, mas isso não ocorre na prática. A explicação que encontro para isso é que a arte digital é complexa de entender e muitas galerias e museus têm receio com sua conservação. Para a coluna de hoje a minha proposta é uma viagem pelos melhores locais do mundo para apreciar arte digital e observar como os curadores estão adotando métodos inovadores. Preparei uma lista de 10 museus que possuem bons acervos de arte digital e que podem ser acessados pela Web, caso você não esteja com viagens marcadas para o exterior:

  1. Whitney Museum of American Art (Nova York, EUA) – Esse museu é sensacional e líder em arte digital. Começou seu acervo digital na década de 1960 a partir da colaboração de artistas, laboratórios de ciência e empresas de tecnologia. O museu sempre apresenta novidades e exposições disruptivas. Um dos destaques foi “Programmed: Rules, Codes, and Choreographies in Art”, uma exposição que reúne obras criadas durante cinquenta anos (de 1965 a 2018). Esta mostra foi um marco, depois de outras exposições como BitStreams (2001), Data Dynamics (2001), CODeDOC (2002) e Cory Arcangel: Pro Tools (2011). Para quem conseguir fazer uma visita presencial, recomendo ir até o último andar para aproveitar o restaurante que fica na cobertura. O local tem uma das mais bonitas vistas de Nova York, um presente para celebrar a experiência que o museu proporciona para os visitantes.
  2. Novo Museu (Nova Iorque, EUA)O New Museum é um local central para a arte contemporânea. Fundado em 1977, é o primeiro museu dedicado à arte contemporânea de Nova Iorque desde a Segunda Guerra Mundial. O Novo Museu começou com o propósito de valorizar artistas vivos, que não eram facilmente assimilados na estrutura convencional de exposições e coleções de museus de arte tradicional. Foca no diálogo intercultural, apresenta muita videoarte e trabalhos diferenciados. Importantes artistas da nova geração tiveram suas obras expostas no local, como Agnieszka Polska, Gregory Kalliche, Eva Papamargariti e Marguerite Humeau e Pipilotti Rist, um dos pioneiros da arte-vídeo. O New Museum tem uma incubadora (a New Inc) para promover o desenvolvimento de arte que integra tecnologia. A instalação vermelha do artista brasileiro Cildo Meireles já foi destaque no museu (1999-2000).
  3. Museu de Arte Moderna de São Francisco (São Francisco, EUA) – Esse museu fica em São Francisco, a cidade americana mais tecnológica. Em 1989, em uma viagem que fiz a trabalho para o Vale do Silício fiquei impressionada ao notar que eles já tinham há alguns anos um acervo de arte digital. Naquela época, quase ninguém falava a respeito e as possibilidades digitais eram restritas. O SFMOMA tem um Departamento de Artes de Mídia e uma ampla coleção com obras de artistas como Nam June Paik, Tacita Dean, Douglas Gordon, Dan Graham, Julia Scher, Peter Campus, Gary Hill, Tatsuo Miyajima, Candice Breitz, Anthony McCall, Jim Campbell e Rafael Lozano-Hemmer. Acho genial a forma como selecionam temas e integram obras dentro de conceitos específicos. Gostei muito de uma exposição que chamava ‘Arte em Tempos Tecnológicos’ (2001). Parece que agora estão promovendo ações para explorar a importância das fotografias e imagens nas redes sociais.
  4. Walker Art Center (Minneapolis, EUA)Chegar em Mineápolis é uma aventura. A cidade fica lá em cima, perto do Canadá, mas por estar no centro dos Estados Unidos não é de tão fácil acesso. Eles tiveram Steve Dietz como curador de novas mídias, de 1996 a 2003. Foi graças a ele que o museu conseguiu reunir importantes obras e promover algumas das primeiras exposições online. O museu também foi o primeiro a promover espetáculos itinerantes, como ‘Telematic Connections: The Virtual Embrace’ (2000–2002) e ‘Translocations’ (2003). Seu departamento de Novas Mídias é um dos mais atuantes dos Estados Unidos e promove uma série de estudos sobre arte digital. A proposta do museu agora é dar relevância para artistas visuais emergentes. Por essas e outras, o Walker Art Center é cada vez mais uma referência de arte, digital e do novo ecossistema virtual e imersivo que está sendo criado por novos artistas como Laurie Anderson, Ed Atkins, Trisha Baga, Zach Blas, Petra Cortright, Josh Kline, Wolf Vostell e muitos outros.
  5. Instituto de Arte Contemporânea (Londres, Reino Unido) – Londres é a cidade que sempre antecipou tendências. Em 1968, quando muitos de nós nem tínhamos nascido, eles promoveram a exposição ‘Cybernetic Serendipity’. O Institute of Contemporary Arts explora um mix de mídias, dispositivos cibernéticos, música, gráficos, textos, poemas, vídeos e imagens geradas por computador. Destaca também projetos de arquitetos, design e inovação. Entre as exposições especiais, há diversas direcionadas a questionamentos, como a do artista de mídia escocês Morag Keil, que explora o impacto do capitalismo de dados e das tecnologias digitais nas pessoas e em suas realidades cotidianas. Difícil descrever o local, mas pode-se dizer que o ICA foi criado como um instituto (não um museu) para o contemporâneo (não apenas moderno) e para todas as artes (não apenas a arte tradicional.
  6. ZKM Center for Art and Media (Karlsruhe, Alemanha) – O local é a “Bauhaus de Arte Eletrônica ou Digital”. A ZKM captura o desenvolvimento de todas as mídias relevantes para nossa era digital, seja por meio de pintura, fotografia, vídeo, performances, instalações e outras criações. Seu curador, Peter Weibel, é um incansável entusiasta que realmente faz a diferença no segmento de arte digital. O centro abriga residências artísticas, institutos e laboratórios para realizar pesquisa, desenvolvimento e produção científica. Exposições recentes exploraram temas como ‘Códigos Abertos’, com foco em programação e saída de dados por meio de dispositivos eletrônicos como TV, smartphones e computadores. A coleção permanente de arte midiática do ZKM foi construída ao longo de trinta anos e que contém obras de importantes artistas como Lynn Hershman Leeson, Bill Viola, Dennis Oppenheim, Nam June Paik, Paul Garrin, Marina Abramović, Masaki Fujihata e Frank Fietzek, entre outros.
  7. Ars Electronica Center (Linz, Áustria) – É um museu do futuro, orientado a apresentação de ideias inovadoras e na mistura de arte de mídia com domínios científicos como inteligência artificial, biotecnologia, engenharia genética, neurologia, robótica e próteses. Engraçado ver um centro sem aquelas placas de “não toque”. No Ars Electronica Center todos podem interagir com a obra e experimentar seu entorno para refletir melhor sobre como será a vida no futuro. Ao invés de destacar artistas, o local apresenta durante todo o ano projetos de arte-ciência-tecnologia, que é continuamente ajustada para combinar pesquisa e criação de conhecimento. O Ars Electronica também organiza um festival bem interessante de arte de mídia, chamado de FutureLab. Vale destacar que foi um dos primeiros locais do mundo a mostrar projeções de resolução 8K nas paredes e chão, rastreamento a laser, animações 3D e experiências imersivas.
  8. Galerias Serpentine (Londres, Reino Unido) – Quem visita o local fica com a nítida sensação de que é hora para novos experimentos em arte e tecnologia. As Serpentine Galleries mostram novas mídias e tecnologias imersivas. Costuma promover exposições individuais de artistas, como Pierre Huyghe, Ian Cheng, Sondra Perry e Marina Abramović. Ela foi a pioneira no uso de Realidade Mista no mundo, permitindo que os visitantes permanecessem imersos na obra de arte. Se você procura tecnologia e arte disruptiva, a visita ao local é mandatória.
  9. Beall Center for Art + Technology (Irvine, CA) – O local faz parte da Universidade da Califórnia Irvine (UCI)e busca promover novas relações entre arte, ciência e engenharia, explorando tecnologias digitais e artes de mídia contemporâneas. Começou em 2000, com a exposição inaugural batizada de ‘SHIFT_CTRL: Computers, Games, and Art’, unindo jogos com arte e tecnologia. Desde então, tem demonstrado dedicação a pesquisas e atividades que despertem a atenção do público. Entre os artistas que já apresentaram obras no local estão Nam June Paik, Paul Vanouse, Golan Levin, Eddo Stern e R.Luke DuBois.
  10. Centro de Intercomunicação (Tóquio, Japão) – O centro foi fundado em 1997 pela empresa japonesa de telecomunicações NTT para comemorar os 100 anos da telefonia do Japão. Apesar de estar muito longe de nós, o ICC é referência central para as novas mídias artísticas. O centro conecta arte com ciência e tecnologia e promove artistas da região da Ásia-Pacífico, como Yao Chung-Han, voice.zero, Higa Satoru e Fujikura Asako. Suas exposições promovem grandes reflexões sobre temas como experimentos que integram arte e tecnologia e o futuro revisitado.

 

 

 

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