O senador bolsonarista Jorge Seif (PL-SC) tinha a cassação do mandato dada como certa diante de uma infinidade de acusações de abuso de poder econômico na eleição de 2022, mas um pedido para a realização de novas investigações feitas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde está sendo julgado, adiou o desfecho do caso.

A defesa do parlamentar, contudo, nem pode comemorar, porque sua situação legal piorou muito nos últimos dias, depois que a Polícia Rodoviária Federal apreendeu um caminhão com mais de 320 quilos de maconha em Naviraí (MS), no último dia 25 de março, e que está registrado em nome da empresa da sua família, a J.S. Pescados. O político publicou um vídeo nas redes sociais, na terça-feira, 11, informando que o veículo de carga foi vendido em setembro de 2022 e ainda não foi transferido para o novo proprietário.

Mas o que pode levá-lo à cassação, efetivamente, é o processo que corre no TSE.
• O senador é acusado de ter sido beneficiado pelo apoio financeiro e logístico dos empresários Luciano Hang, da rede de lojas Havan, e Almir Manoel Atanázio dos Santos, presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados da cidade de São João Batista (SC), durante a eleição de 2022.
Seif ainda teria se beneficiado de propaganda eleitoral por entidade sindical, veiculada durante a 21ª Semana de Indústria Calçadista Catarinense, evento promovido também pelo Sindicato das Indústrias de Calçados.
Ele nega as acusações.

O recurso junto ao TSE contra o senador foi proposto pela coligação “Bora Trabalhar”, formada pelo PSD, Patriota e União Brasil, e requer a reforma da decisão do TRE-SC, que considerou improcedente a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) contra o parlamentar.

Para a coligação, houve abuso de poder econômico por parte de Seif, e, por isso, pede a cassação do mandato do senador. Nos bastidores do Senado, a cassação de Seif é dada como certa por conta dos fortes indícios de irregularidades cometidas na campanha.

Entretanto, no fim de abril, o relator do caso no TSE, ministro Floriano Marques, transformou o recurso pela cassação em pedido de novas diligências para coletar mais provas a respeito das irregularidades. Marques quer documentos sobre o suposto uso irregular de aeronaves financiadas pelos empresários.

Acompanharam o voto do relator os ministros Nunes Marques, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Isabel Gallotti e André Ramos Tavares.

Conheça a novela judicial para cassar o senador bolsonarista Jorge Seif
Quando se preparavam para cassar o mandato do senador, ministros do TSE pediram mais investigações sobre o caso e adiaram a decisão (Crédito:Luiz Roberto/Secom/TSE)

Apoio ao filho “04”

Seif é o principal articulador do bolsonarismo em Santa Catarina. Ele organiza praticamente todos os movimentos de apoio ao ex-presidente no Sul do País e foi visto em sua companhia em vários eventos durante o período em que o ex-capitão estava na Presidência, em especial em motociatas e passeios de jet ski nas praias de Florianópolis.

Produtor rural, ele é também um dos principais nomes do conservadorismo catarinense e ferrenho adversário de movimentos populares, especialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Durante o governo Bolsonaro, foi secretário Nacional de Pesca e Aquicultura, de onde saiu para se candidatar e se eleger ao Senado.

Ganhou exposição com as lives promovidas pelo então presidente e passou a ser chamado por ele de “06”, em referência a uma suposta ordem hierárquica começando pelos filhos de Bolsonaro e passando por colaboradores mais próximos.

Entretanto, foi alvo de memes na internet quando amenizou o impacto ambiental de milhares de toneladas de óleo derramadas no litoral nordestino em 2020, causando prejuízos incalculáveis. Declarou que o impacto seria pequeno porque “peixes eram bichos inteligentes e desviariam do óleo sem grandes problemas”.

Seif trocou o PSL pelo PL em abril de 2021. Em 2022, no primeiro pleito que disputou, foi eleito senador com 1.484.110 votos.

Desde março de 2023, o ex-secretário emprega Jair Renan, o filho “04” do ex- presidente, em seu escritório de apoio em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Renan conta com o apoio do senador para disputar uma vaga na Câmara de Vereadores da cidade catarinense.