O sonho de Daniel Nunes de se tornar jogador de futebol foi momentaneamente interrompido por um grave acidente de trânsito. Submetido a uma cirurgia de amputação da perna esquerda, o paulista não encontrava rumos diante da nova vida. A saudade do esporte também amargava o coração. Mal ele sabia que tudo mudaria da maneira mais improvável possível.
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Morador de Santa Isabel, no interior paulista, Daniel conheceu o futebol de amputados navegando no Facebook. O amor foi a primeira vista. Integrante da Associação Bola pra Frente Esportes Adaptados, time de futebol de São Paulo voltado para jogadores com deficiência e com foco em amputados, Daniel se tornou estrela principal de um dos episódios da série global de quatro vídeos que fazem parte da campanha We The 15 (produzida pelo Comitê Paralímpico Internacional).

Em entrevista ao L!, Daniel abriu o coração sobre como reaprendeu a gostar de viver e a importância do futebol nesse processo.

Como o futebol mudou sua visão de vida?

Mudou tudo, sabe? Hoje eu tenho outra visão. Antes eu tinha muita vergonha, medo de como as pessoas me olhavam, e depois que entrei no futebol esse medo e trauma sumiram, posso dizer que o futebol mudou tudo pra mim!

Como foi essa descoberta do futebol para amputados pelo Facebook? Foi por
acaso ou você já procurava praticar algum esporte?

– Eu descobri a modalidade pelo Facebook, eu sempre tive interesse em futebol e procurava saber do que estava rolando, foi assim que acabei encontrando o futebol de amputados. Depois, quando eu conheci a Erica, acabei me aprofundando mais e tive a oportunidade de entender e praticar a modalidade.

Qual foi a sensação quando começou a jogar futebol para amputados? Iniciou com receio, ou se sentia confortável com a novidade?

– Foi a melhor sensação do mundo, estar em campo e fazendo o que eu mais amo! Eu me sentia bem e super tranquilo, pois antes de conhecer e jogar a modalidade eu já jogava com os andantes, então eu já era treinado! Mas o tempo e as chances de ter participado de torneios me deram mais experiência e me adaptei fácil. São coisas fáceis de aprender, eu acho.

O futebol de amputados ainda não é um esporte paralímpico. Para você, o que falta para a modalidade ser inserida nos Jogos?

– Reconhecimento! O futebol de amputados ainda é uma modalidade muito “camuflada” para a população. Reconhecida por poucos países e, para ir para os jogos paralímpicos, é preciso ser divulgado, e ampliar o conhecimento das pessoas de que também é um esporte importante. Para isso, é preciso investimento e reconhecimento.

Érica Leite, fundadora da associação, também conversou com o L!. Ela reforça a essencial ajuda do São Paulo em ceder espaço para treinamentos do grupo e conta os bastidores do projeto.

Como foi o processo e quais dificuldades na criação da Associação Bola pra
Frente?

– O processo da formação Associação Bola pra Frente veio através de próprio jogadores, eram 4 jogadores que vieram de outro projeto localizado em Mogi das Cruzes, onde eles já treinavam. Quando eu conheci o projeto a gente se juntou e formamos a associação. Uma das principais dificuldades é que estamos localizados na cidade de São Paulo, que é uma cidade muito grande, e o acesso é mais complicado também.

– Desde apresentar o projeto para mais pessoas até chegar nos bairros mais afastados, por conta da distância, por exemplo, um atleta pode levar de três a quatro horas no transporte público para chegar no local e treinar.

Qual a importância do São Paulo no projeto?

– Quando o SPFC entrou no projeto a maior diferença foi na cabeça dos próprios jogadores. Muitos deles tinham o sonho de ser jogador de futebol antes da amputação e quando o São Paulo abraçou essa ideia, eles puderam viver novamente esse sonho, de jogar em um time grande. Fazer parte do SPFC ajuda na nossa estrutura como associação e também faz parte do sonho de cada um deles.

Na sua visão, o que falta para outros clubes brasileiros incentivarem o futebol para amputados?

– Para os outros clubes falta mais o conhecimento da modalidade, que cresceu muito no Brasil nos últimos cinco anos. Falta também mais divulgação da modalidade, para que os clubes possam ter visibilidade de como a acessibilidade social faz diferença para as pessoas e para o próprio clube também.