Enquanto a chuva cai em Bauta, periferia de Havana, raios geram interferência na imagem da velha TV de tubo chinesa, da marca Panda. Mas pouco importa. Quando Paulinho chuta e faz o gol do Brasil, os moradores da cidade vibram de alegria.

A única vez que Cuba esteve em um Mundial de futebol foi em 1938. Por isso, a cada torneio o país escolhe por qual seleção vai torcer, mas isso não acontece nessa cidade em que em toda Copa o coração de seus 50 mil habitantes é verde e amarelo.

As ruas da cidade são enfeitadas com bandeiras que proclamam “Ordem e Progresso” e os jogos são transmitidos no teatro do povoado. Quem não consegue entrada para assistir no telão, se reúne em casa com os amigos para acompanhar a Seleção canarinho.

O narrador esportivo da ‘Tele Rebelde’ deixa bem claro durante a transmissão do jogo: o Brasil é o país que mais torcedores tem em Cuba.

“Isso nasceu em 2006. Toda vez que o Brasil joga, pintamos tudo de verde e amerelo. Os rapazes pintam os cabelos. Os cubanos se identificam muito com os brasileiros, o samba, o ritmo, a raça. Somos cubanos, somos latinos, somos Brasil”, afirma Alberto Izquierdo, um habitante de 65 anos.

Junto com outros vizinhos, Albertinho – como está escrito em sua camisa – convidou os brasileiros residentes em Havana para ver a partida contra a Sérvia em sua casa.

A torcida é embalada por gritos entusiasmados, música e muita dança.

“Estou muito emocionado. Fomos acolhidos de forma tão carinhosa. Me disseram que Bauta era a cidade mais brasileira de Cuba. Eu não conhecia. E vou voltar. Estou em casa. Eles nos trouxeram boa sorte. Ganhamos e jogamos bem”, comenta o embaixador Antonio Alves Júnior, chefe da missão diplomática do Brasil em Cuba.

Um boneco de Ronaldinho Gaúcho foi colado em cima da TV para dar sorte.

– Do beisebol ao futebol –

O beisebol é o esporte nacional de Cuba, que também adora basquete e boxe. Mas o futebol foi aos poucos ganhando espaço e os cubanos passaram a torcer pelas grandes seleções. Alemanha e Argentina lideravam as preferências nos anos 1990.

Mas, com a globalização, a ilha comunista foi se adaptando. Atualmente a TV cubana transmite em sinal aberto e ao vivo as partidas da Liga Espanhola e da Bundesliga ou a Liga de Campeões.

É comum ver pelas ruas os cubanos usando camisas do Barcelona ou do Real Madrid, debatendo apaixonadamente as partidas nas praças.

Quando falam de futebol, parecem se sentir embaixadores da equipe para a qual torcem.

“Somos fãs do Brasil. Vamos ganhar. A Alemanha já se foi. É um a menos. Cuba inteira apoia o Brasil e estamos com eles”, diz María Esther Ríos, de 55 anos, durante o intervalo da partida contra a Sérvia.

Junto com sua família, no teatro da cidade, agitam bandeiras, gritam e tocam vuvuzelas para comemorar o primeiro gol dos meninos de Tite.

O segundo tempo começa. A tentativa de pressão da Sérvia deixa os cubano/brasileiros nervosos.

Torcedores com camisas de Neymar, Paulinho ou Casemiro se espremem diante dos antigos televisores ou “bundudas”, como as televisões são chamadas na ilha por causa de sua parte traseira.

Até que Thiago Silva marca o segundo gol para o Brasil. Partida decidida. O jogo acaba e a comemoração começa. Um grupo de cubanas usando camisas da seleção brasileira sobe em um Chevrolet conversível de 1957 e começa a tirar as selfies de praxe.

Atrás, um caminhão também dos anos 1950 completa a caravana lotado de torcedores.

Não há fogos de artifício, mas quando o motorista acelera, o velho motor providencia as explosões e a fumaça típicas que não atrapalham em nada o festejo de uma cidade que já se prepara para as oitavas de final.

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