06/05/2022 - 17:32
Em outubro de 2019, Adauto Leva postou em seu blog Cabeceira uma foto de uma casinha antiga da Vila Romana, na zona oeste. De um lado, a placa de uma imobiliária e a palavra: Vendeu. Mais acima, uma faixa. “Se você parou para ler essa faixa, vai ficar feliz com a notícia: em breve, aqui, uma livraria”, estava escrito. Bastava uma boa reforma e a Cabeceira seria inaugurada em 2020. “Mas 2020 foi o ano que não aconteceu”, diz Adauto. 2021, então. Não, a obra atrasou.
Nesta semana, a Livraria Cabeceira finalmente abriu as portas na Praça Alfredo Weiszflog, 38, depois de anos de maturação – a ideia surgiu em 2018. Para pensar no conceito, foram feitas duas rodadas de pesquisa de mercado – uma quantitativa e outra qualitativa – com leitores de livros que compram em livrarias, visitas a livrarias de cidades como Londres, Nova York e Miami e cursos de empreendedorismo e gestão de cafeteria.
O projeto arquitetônico, feito pelo Estúdio Guega e por Guega Rocha Carvalho e Heloisa Oliveira, transformou a casa de 130 m² em um espaço cultural que abriga, por ora, 3.500 títulos – a ideia é ampliar para 6 mil em um ano. Nos 50 m² do térreo fica o acervo composto principalmente de literatura brasileira, mas o público encontrará também literatura estrangeira, humanidades em geral, divulgação científica, biografias, artes, gastronomia. Pertinho do quintal, ficam os livros para crianças. O mezanino, com 50 m², vai abrigar exposições, eventos, sessões de autógrafos, cursos, etc.
Ao lado de Adauto, que é escritor e já foi editor, na empreitada está sua irmã, a advogada Fabíola Nabuco Leva. Filhos de uma professora de literatura, eles homenageiam a mãe neste novo negócio familiar com uma estante reunindo todos os autores que lhe eram caros. Há outra estante especial, que ganhou o nome de Saudades da Cosac. Ali, está uma seleção de exemplares novos garimpados quando a Cosac Naify fechou em 2015, e guardados com cuidado até hoje.
Essas são duas áreas especiais da livraria. Os demais livros são apresentados de um jeito diferente – não por gênero, por exemplo. “Não espere encontrar uma seção de literatura brasileira organizada pelo sobrenome do autor”, comenta Adauto. “Quem vier poderá se deparar com uma seção de livros sobre a cidade de São Paulo que oferece um romance em que a cidade é protagonista, um guia de bares e restaurantes, uma história policial ambientada na Boca do Lixo, um livro de crônicas de uma autora nascida na cidade, um relato de viagem de um estrangeiro e outros títulos que tenham este ponto em comum – a cidade”, explica o novo livreiro.
A novidade mais interessante, porém, é a possibilidade de revender, para a Cabeceira, a obra comprada lá. “Além de um programa de fidelidade, em que cada Real gasto na loja conta ponto para descontos futuros, a livraria dará início ao programa Segunda Leitura. Um livro comprado na Cabeceira poderá ser recomprado pela loja, desde que em perfeito estado, gerando desconto na compra de um novo livro, e depois revendido a preço baixo, uma única vez. A ideia é fazer o exemplar circular mais e ocupar menos espaço na casa do leitor”, conta.
A inauguração da Cabeceira, em um bairro que não contava mais com nenhuma livraria se insere neste momento de valorização da livraria independente de rua, que não pode nem quer concorrer com o varejo online. “As livrarias de redes, com suas grandes lojas em shopping centers, se tornaram um lugar de comprar livros, e por isso foram engolidas pela internet. As pequenas livrarias são lugares para quem gosta de livros”, finaliza Adauto.
A Cabeceira, que conta com um autosserviço de café, bebida gelada e salgado, abre de terça a sábado, das 10h às 20h.