O que é arte? Essa pergunta pode render dias de discussões sem um denominador comum. Independente da opinião de cada um (que eu respeito), a coluna de hoje é uma homenagem ao Banksy, um artista evasivo que não revela sua identidade, mas mobiliza milhões de fãs em todo o planeta com sua arte irreverente.

Incrível notar que o grafite mais famoso do mundo é de um autor que não sabemos ao certo quem é. O jornal britânico Daily Mail diz que ele é um inglês que nasceu em Bristol em julho de 1973. A reportagem do jornal menciona que o guerrilheiro do grafite começou suas produções na rua e agora é o maior queridinho do mundo da arte, além de ser um dos mais cobiçados por colecionadores e celebridades. Outros dizem que ele não é uma pessoa e sim um grupo de artistas que atua em sempre em conjunto. Mas, sinceramente, esse suspense é genial por diversos motivos.

A proposta de Banksy é usar sua arte para questionar os valores da sociedade, algo extremamente profundo, ainda mais em tempos de COVID-19. Suas obras estão em diversas cidades do mundo como Londres, Los Angeles, Nova Iorque e Paris.É um ativista que aparece sempre misteriosamente com um capuz e algumas de suas produções contam com apoio de colaboradores para serem produzidas, devido à complexidade.

Quem visita Bristol (Inglaterra), consegue ver vários grafites seus na cidade. Nos anos 90, os desenhos começaram a chamar a atenção pelo uso da técnica do estêncil, que funciona como a base para receber tinta e spray. Retratam figuras irônicas e frases de cunho político e social,que mudam para sempre a história das paredes de casas, prêmios e muros.Uma das acusações mais vulgares que os artistas de rua ouvem é a de que vandalizam propriedade privada. Com ele, nãopoderia ser diferente. Já teve obras apagadas (veja o mural WellHungLover), assim como aconteceu recentemente em São Paulo com outros artistas.

Sempre com irreverência, fez muitas intervenções engraçadas que lançaram seu nome internacionalmente. Acrescentou obras penetras em museus. Pintou notas de 10 libras trocando a rainha Elizabeth pela princesa Diana, tendo a obra doada ao The British Museum. Na Palestina, pintou “Stop andSearch” (2007), com um soldado sendo revistado por uma menininha.

Fez também uma obra ícone de seu trabalho: “SoldierTrrowinFlowers”, ou “Love is in the Air” (2005), a obra mostra um homem palestino, com boné de beisebol e o rosto coberto por um lenço, atirando com fúria um buquê de flores, ao invés de uma bomba. A raiva e a frustração podem ser vistas na postura do homem, enquanto ele tenta bombardear o estabelecimento com flores coloridas e vívidas para demonstrar que a solução dos conflitos deve ser pacífica.

Em 2010, fez o documentário “ExitThroughtheGift Shop” criado para contar as observações sobre arte de Thierry Guella, um imigrante francês que mora em Los Angeles. Ganhou com esse filme o SpiritAward, que é considerado o Oscar do cinema independente. Seu amigo Thierry Guetta, grafiteiro que assina como Mr. Brainwash, foi quem recebeu o prêmio, o que reforça que sua rede de amigos fieis e reservados é forte, além de ser comprometida em manter sua verdadeira identidade em segredo.

Nova York parou em 2013, quando ele decidiu mostrar uma nova obra por dia na cidade durante um mês, atraindo uma multidão de fãs interessados em fotografar seu trabalho. Provocou reações apaixonadas, enquanto protestava contra a construção do novo World Trade Center. Os novaiorquinos não falavam de outra coisa, mas também existiram críticas de importantes interlocutores. OThe New York Times, um dos jornais mais importantes do mundo, decidiu não publicar um texto sobre a intervenção na cidade. Para risos de todos, uma parede surgiu com a resposta:”Esse local contém mensagens bloqueadas”.O prefeito da época, Michael Bloomberg, criticou o trabalho do artista e disse que na sua opinião grafite não era a sua definição de arte. “Ou talvez seja arte, mas não deveria ser permitido. E acho que é exatamente isso que a lei diz”, tentou consertar na sequência para não se distanciar dos eleitores.

Depois disso, Banksy montou uma simples barraquinha de rua e colocou suas obras,avaliadas em milhares de dólares,para serem vendidas por apenas 60 dólares. Os poucos clientes compraram os desenhos de um autor anônimosimplesmente porque gostaram. No dia seguinte, ficaram famosos e mais ricos. A campanha”Better out than in” intensificou a discussão do que é realmente arte e de quanto vale a arte.

Contra Fake News, Banksy manifestou-se por meio de um site(que talvez nem seja dele), ironizando quem tenta copiar sua arte. Disse que o público deveria estar ciente de que houve uma onda recente de exposições com suas obras, mas nenhuma era consensual, pois foram organizadas inteiramente sem seu envolvimento. Fez o pedido:”Por favor, trate-os de acordo”.

Existe um perfil Banksy no Instagram e no sitehá menção ao e-mail faq@banksy.co.uk, reforçando  quenão está no Facebook, não está no Twitter e que não é representado por nenhuma galeria ou por Steve Lazarides, um colecionador que se autointitula indevidamente como seu ‘representante comercial’.

Certamente, os tempos são outros.Agora na quarentena forçada por causa do COVID-19, duas obras de Banksy circularam o planeta. A decoração engraçada de um banheiro repleto de ratos, com a legenda “Mywifehates it when I workfrom home”, e o retrato de um menino deixando de lado seus super heróis para brincar com uma boneca de enfermeira. Veja Game Changer.

Sua obra é questionadora e antenada com os movimentos da sociedade que questiona uma infinidade de temas como a violência, o racismo, o abuso de poder, os carros abandonados, a saída da Inglaterra da União Europeia, ou até mesmo o chiclete jogado no chão das ruas.

Os leilões de arte da Sotheby’s costumam ser sempre polêmicos quando as obras de Banksy estão envolvidas. Por 12 milhões de dólares foi leiloada em outubro de 2019 a obra “DevolvedParliament“, mostrando um bando de chimpanzés sentados nos bancos do Parlamento Britânico e chamando a atenção para a atitude animal da democracia parlamentar mais antiga do mundo. Em apenas 13 minutos, a obra foi vendida e pelo Instagram veio a mensagem: “Preço recorde para uma pintura de Banksy alcançado esta noite. Pena que não me pertença mais”.

Em outubro de 2018, ocorreu um fato inédito que considero a maior jogada de marketing do atual mundo das artes. Ninguém sabe ao certo os bastidores, mas Banksy instalou um triturador dentro da moldura da obra “Girl WithBallon“. Assim que a obra foi vendida, um dispositivo acionou o mecanismo dentro do quadro e o desenho foi parcialmente autodestruído. Com isso, Banksy deu mais uma visibilidade planetária para suas obras e pregou uma enorme peça no mundo da arte contemporânea.

Banksy questionou o fatode que o desenho estava absolutamente saturado, inclusive por ser a imagem preferida da Grã-Bretanha no ano anterior. A proprietária, que pagou 1 milhão de libras esterlinas, disse que ficaria com a obra. A compradorapode ser mais uma brincadeira de Banksy ou uma compradora real que agora tem a certeza de que a sua “Menina com o Balão” certamente não é igual às demais cópias.

No mundo das artes, todos os movimentos são assim. As grandes obras primas têm sempre uma razão de ser e uma série de motivos que a inspiraram. Quase nada acontece por acaso nesse universo, apesar de ainda acreditarem que coincidências existem entre os pincéis. Vejam a obra de Andy Warhol, um ícone da pop art,um dos pioneiros no uso de estêncil e grande inspirador de vários grafiteiros, como Banksy. Como dizia Pablo Picasso, “se apenas houvesse uma única verdade, não seria possível pintar cem telas sobre o mesmo tema”.

Vamos mergulhar juntos no mundo da arte? Escreva para sugerir um tema ou para contar algo sobre seu artista preferido. Adoro boas histórias! (Instagram Keka Consiglio).