Meu querido leitor, tenho uma péssima notícia para te dar: você vive em um país sem leis. Uma república das bananas onde os políticos humilham a Constituição, passam a perna na população e legislam em causa própria sem sequer ficarem vermelhos. Se você acha que estou sendo duro, sugiro o resgate do vídeo da sessão de ontem (para facilitar, você pode conferi-lo no fim deste texto), quinta-feira, 15 de julho, do Congresso Nacional. Assista e depois me diga se ela não será marcada como uma das cenas mais degradantes da história do Brasil.

Se você não tem estômago para ver as imagens, não te culpo. Deixe-me, no entanto, descrevê-las. Da cadeira da Presidência do Senado, Rodrigo Pacheco leu em voz alta o texto aprovado da PEC Kamikaze, aquele projeto vergonhoso que legaliza a compra de votos a três meses da eleição. Os políticos do Centrão usaram R$ 41 bilhões para isso, dinheiro que saiu do seu bolso. O apático Pacheco, com seu carisma de pão de queijo frio, demonstrava uma cordialidade tão falsa que me fez acreditar que estava discursando no plenário de algum país da Escandinávia. Ao tratar seus pares como “nobre senador” para lá, “vossa excelência” para cá, ele comprovou duas coisas: sua submissão canina ao presidente Bolsonaro e como o Poder Legislativo criou uma maneira de, ao arrepio da legislação, destruir o que os Constituintes fizeram em 1988.

Mas, calma: tem mais. Do seu lado esquerdo, o dono da chave do cofre do orçamento secreto, o poderoso chefão, o presidente da Câmara, Arthur Lira. Exibindo aquela sua cara de “homem honesto”, ele sorria com o canto da boca enquanto se vangloriava da manobra que o fará entrar para a história: o gênio do mal que encontrou uma forma de lavar as emendas dos relatores, impedindo que a imprensa identifique quem designou dinheiro e para onde esse dinheiro foi. Do lado direito de Pacheco, o presidente Jair Bolsonaro. Não há muito o que dizer dele, além de tudo que o Brasil já conhece. Sabemos quem ele é. Sabemos seus valores. Só nos resta a lata de lixo da história, mas, antes, ele terá de ser julgado.

A cereja do bolo veio na sequência: esses três personagens, em coro com os políticos do Centrão, cantaram o Hino Nacional. De costas, era possível apenas ver as costas obesas explodindo em ternos de cores duvidosas, pagos com seu dinheiro. Além, claro, dos cabelos ensebados pintados de acaju: nem Alfred Hitchcock seria capaz de imaginar uma cena tão assustadora.