LIMA, 10 OUT (ANSA) – O Congresso do Peru aprovou, na madrugada nesta sexta-feira (10), a destituição da presidente Dina Boluarte, encerrando um mandato marcado por protestos sociais, investigações de corrupção e criminalidade desenfreada.
Com a decisão, o atual chefe do Congresso, José Jeri, de 38 anos, assumiu imediatamente a presidência do país sul-americano, prometendo liderar um governo de transição até as eleições marcadas para abril de 2026.
“O principal inimigo está lá fora, nas ruas: as gangues criminosas, os grupos criminosos. Devemos declarar guerra a eles”, afirmou Jeri durante sua posse, enfatizando que enfrentará a crescente onda de violência que assola o país.
A saída de Boluarte se soma a uma longa lista de instabilidade política no Peru, que teve sete presidentes nos últimos nove anos. O pedido de impeachment se baseou na “permanente incapacidade moral” da mandatária.
O processo, que começou na noite de quinta-feira, avançou rapidamente e conquistou apoio de todo o espectro político, incluindo partidos que a apoiavam anteriormente.
A ex-presidente foi intimada a comparecer ao Congresso às 23h30 (horário local), mas não apareceu. Minutos depois, a votação ocorreu: 122 congressistas apoiaram seu impeachment, segundo a contagem oficial.
O advogado de Boluarte, Juan Carlos Portugal, criticou o processo, argumentando que ela não teve tempo suficiente para preparar sua defesa, o que violou o devido processo legal.
Do lado de fora do Congresso, em Lima, dezenas de pessoas comemoraram o impeachment. “Abaixo Dina”, dizia um dos cartazes.
“A presidente e seu gabinete maltrataram o país. A extorsão e a criminalidade aumentaram, e eles merecem punição”, declarou a deputada Norma Yarrow, do partido de direita Renovação Popular.
Aos 63 anos, Boluarte negou repetidamente as acusações de corrupção e prometeu enfrentar o crime. Logo após o anúncio de sua destituição, ela publicou um vídeo defendendo seu governo.
“Em todos os momentos, clamei por unidade. Não pensei em mim, mas nos mais de 34 milhões de peruanos”, afirmou.
Boluarte chegou ao poder em dezembro de 2022, após a destituição de Pedro Castillo em meio a uma violenta repressão aos protestos que deixou pelo menos 50 mortos.
Seu mandato, impopular desde o início, foi marcado por constantes manifestações, tentativas de impeachment e uma série de escândalos e investigações. Entre eles, o chamado escândalo “Rolexgate”, devido à suposta omissão na declaração de joias e relógios de luxo. O aumento salarial concedido a ela em julho também gerou polêmica.
Nas últimas semanas, cresceram os protestos contra uma lei aprovada em 5 de setembro que obriga os jovens a contribuírem para fundos de pensão privados, apesar da alta taxa de informalidade, superior a 70%.
Além disso, o país enfrenta uma onda de violência sem precedentes, ligada a redes de extorsão e crimes perpetrados pelo crime organizado.
Agora, Boluarte torna-se o terceiro presidente cassado pelo Congresso nos últimos nove anos. No mesmo período, outros dois mandatários renunciaram antes de serem destituídos, e apenas um conseguiu completar um mandato interino. (ANSA).