Os republicanos da Câmara de Representantes dos Estados Unidos votaram, nesta quarta-feira (12), em favor do afastamento da cúpula do partido de Liz Cheney, crítica ferrenha de Donald Trump, um passo que cimenta a afinidade da sigla com o ex-presidente.

A 18 meses das eleições de meio de mandato (as “midterms”) e ainda a três anos para a próxima corrida pela Casa Branca, o Partido Republicano puniu uma de suas correligionárias, que se nega a aderir à afirmação de Trump, sem qualquer evidência, de que os democratas cometeram fraude na disputa presidencial de 2020.

Conservadora do estado do Wyoming e filha do ex-vice-presidente Dick Cheney (na gestão de George W. Bush), Liz perdeu seu posto como número três do partido na Câmara.

“Vou fazer o que estiver ao meu alcance para garantir que o ex-presidente não volte nunca mais (ao poder)”, declarou Liz à imprensa, no Congresso, após a decisão.

Os republicanos alegaram estar agindo em favor da unidade do partido e que as críticas de Cheney a Trump e ao que ela considera um “culto de personalidade perigoso e antidemocrático” nada fizeram para unir uma sigla fraturada após a última eleição presidencial.

Trump – que está afastado das redes sociais – reagiu rapidamente, afirmando que Liz é um ser humano “amargo e horrível”.

“Ela é uma belicista, cuja família nos empurrou estupidamente para as desastrosas guerras sem fim no Oriente Médio, afundando nossos recursos e esgotando nossas Forças Armadas”, disse o ex-presidente, acrescentando, em tom de ironia, que espera vê-la em breve como comentarista de emissoras como a rede CNN.

Na terça-feira à noite (11), Liz Cheney fez um discurso desafiador na Câmara dos Representantes, alertando seus correligionários sobre a possibilidade de um “desmoronamento” da democracia, já que o ex-presidente continua enganando milhões de americanos e semeando dúvidas sobre a integridade das eleições.

“Ficar em silêncio e ignorar a mentira encoraja o mentiroso”, disse Liz, em uma sala quase vazia.

“Não vou ficar sentada em silêncio, enquanto outros levam nosso partido por um caminho que abandona o Estado de Direito e se junta à cruzada do ex-presidente para minar nossa democracia”, frisou.

O líder da minoria republicana da Câmara, Kevin McCarthy, e seu número 2, Steve Scalise, endossaram o nome de uma jovem moderada que apoia Trump, Elise Stefanik, como substituta de Liz Cheney.

A votação para um novo posto ainda não foi marcada, já que alguns republicanos temem que Stefanik, embora seja uma forte apoiadora de Trump, não seja conservadora o suficiente.

Independentemente da substituição de Cheney, “está claro que precisamos fazer uma mudança”, disse McCarthy aos membros na segunda-feira.

Embora Liz Cheney e alguns aliados, como o representante Adam Kinzinger, alertem para o perigo de cerrar fileiras com o ex-presidente, muitos no Partido Republicano, incluindo o poderoso senador Lindsey Graham, acreditam que a legenda não pode avançar sem o trumpismo, independentemente de onde Trump esteja.

– “A grande mentira” –

Com as divisões republicanas em destaque, o presidente Joe Biden se reunirá nesta quarta-feira, na Casa Branca, com os quatro líderes do Congresso: a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi; o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer; e os líderes da minoria republicana, o representante McCarthy e o senador Mitch McConnell.

A reunião pode servir como um lembrete de que, mesmo em meio ao expurgo de um líder do Congresso, as engrenagens de Washington continuam funcionando.

“Tomara que possam falar sobre áreas de acordo e de coisas como infraestrutura”, disse a secretário de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, aos repórteres.

Liz Cheney se encontra, no entanto, no centro da crise de um partido que não pode renunciar ao seu ex-presidente e rejeitar sua falsa alegação de fraude eleitoral. E, em meio a este embate interno, os democratas aproveitam para afirmar que seus rivais apoiam um modelo autocrático.

“Quando você perpetua, ou tolera, mentiras sobre eleições como esta, você corrói nossa democracia”, disse Schumer aos senadores na terça-feira, insistindo em que os republicanos estão repetindo a mentira de que as eleições foram roubadas “simplesmente para acalmar (…) o presidente mais desonesto da história dos Estados Unidos história”.

“Infelizmente, a grande mentira está se espalhando como um câncer entre os republicanos”, lamentou.