Claudia está no quarto semestre de Publicidade e Propaganda numa conceituada Universidade particular.

Procurando por um estágio, ficou sabendo que um grande banco tinha uma vaga em Community Management.

Preencheu o formulário online.

Nas observações, incluiu que falava e escrevia em inglês avançado e que nas horas vagas era influencer.

Dois dias depois, foi chamada para uma entrevista presencial.

– Mas tem salário esse estágio? — perguntou a mãe, enquanto a moça se arrumava.

– Ah, sei lá…o que importa é o estágio, mãe… — respondeu Claudia, colocando os cílios.

– Se tiver uma ajuda de custo já está ótimo — afirmou o pai.

A funcionária da casa ensinou Claudia a ir de metrô para a entrevista, da Bela Cintra para a Berrini.

– É igual ao metrô de Nova Iorque? — perguntou.

Foram as duas, pelas dúvidas.

“Oitavo andar, procurar por Jonathan Campos”, dizia o email.

Jonathan Campos tinha 23 anos e já era assistente do subgerente de RH.

Claudia seria sua primeira contratação, então estava decidido a incluir a moça nos quadros de social media do banco como estagiária, custasse o que custasse.

Na véspera da reunião, releu o capítulo “Contratações” do manual do banco.

Estava excitado para treinar seus “skills de liderança”.

– O seu trabalho vai ser interagir com os clientes do banco, por mensagens, entende?

— informou após as apresentações iniciais.

Claudia escrevia bem, por isso gostou da proposta.

– Para esse trabalho, nós temos um e meio mais vale refeição. — Jonathan estava nervoso, então a proposta de mil e quinhentos reais saiu assim, “um e meio” ao invés do mais formal “mil e quinhentos reais”.

Claudia estava tão nervosa que entendeu que seu trabalho “seria por email”.

– Então eu vou trabalhar só por um email? — ela respondeu para ter certeza que não seria por Instagram, nem Twitter.

Jonathan Campos, como não estava pensando em email, achou que Claudia tinha considerado pouco os mil e quinhentos reais da proposta.

Ao mesmo tempo que achou petulância da menina esnobar o salário, tinha lido no livro Gerente Minuto que “o melhor funcionário é aquele que sabe se valorizar”.

Então respondeu, orgulhoso de sua capacidade de virar o jogo:

– Olha… gostei da sua postura. Acho que posso conseguir dois e meio mais vale refeição. Que tal?

Claudia ficou ainda mais nervosa.

– Interagir com clientes apenas por dois emails, é isso? — tentando entender porque não poderia usar as redes sociais.

Tenso com a perspectiva da menina desistir, depois de ter dito ao chefe que havia encontrado uma ótima candidata, Jonathan Campos rebateu com três e meio.

Com medo de perder a vaga, a menina aceitou.

Claudia voltou para casa e encontrou a mãe com a manicure.

– E aí filha? Conta! — a mãe estava ansiosa.

– Deu certo! Começo na segunda!! — Claudia estava radiante.

– Parabéns! E o que você vai fazer?

O chefe está oferecendo uma proposta com o valor top

– Não entendi muito bem… mas acho que vou cuidar de 3 contas de email.

– Sério?! E o salário? Quanto é? — a mãe era pragmática.

Claudia se deu conta que não falaram de salário.

– Nossa mãe… nem falamos disso. Não faço a menor ideia. Mas tem vale refeição.

Jonathan Campos voltou para sua sala orgulhoso com a performance e com o fato de ter conseguido dobrar a menina, que como era influencer, era até mais qualificada para o que esperavam da vaga.

Teria que rever algumas planilhas para acomodar o salário de três mil e quinhentos reais da moça, que na verdade, era um pouco mais alto que o dele.

Mas para tudo se dá um jeito.

Afinal, liderar também é improvisar, estava no livro.