A ação da GCM (Guarda Civil Municipal) de São Paulo para desocupar um terreno vizinho ao Teatro de Contêiner, na zona central da cidade, foi antecipada em razão de uma agenda que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) fariam na região. O prazo final dado pela gestão expira na quinta-feira, 21.
O teatro fica na Rua dos Protestantes, um dos pontos mais conhecidos da “cracolândia“, com alto fluxo de usuários e comercialização de drogas, até uma intervenção das gestões estadual e municipal para limitar a circulação.
Tarcísio e Nunes se reuniriam para promover o que chamam de “fim da cracolândia” e anunciar o lançamento de um programa de moradias em evento com a participação de sete secretarias. Mas os guardas confrontaram artistas da Companhia Mungunzá de Teatro e integrantes da ONG (Organização Não Governamental) Tem Sentimento, que se recusaram a deixar o local, e chegaram a usar spray de pimenta na abordagem.
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Para evitar que a promoção da vitrine de segurança pública fosse ofuscada por questionamentos sobre a truculência da operação e manifestações contrárias dos artistas, prefeito e governador cancelaram o compromisso, conforme relatou à IstoÉ uma fonte da administração municipal, sob condição de anonimato.
O que dizem Nunes e Tarcísio
Prefeitura e governo do estado negam a motivação. Conforme a Secom (Secretaria de Comunicação) da capital, o evento foi desmarcado por conflitos de agenda. O governador, por sua vez, segue em Brasília, onde participou da cerimônia de lançamento da federação partidária formada por União Brasil e PP.
A prefeitura informou que o prédio, que está interditado e será demolido, foi “invadido por um grupo de pessoas que utilizava um acesso clandestino” e, diante da negativa para desocupá-lo, os guardas precisaram intervir. A gestão de Nunes também disse que artistas não foram retirados do local e que ofereceu duas áreas para realocação do espaço cultural, além de um aporte de R$ 2,5 milhões em apoio às atividades do grupo.
A sintonia das urnas
A proximidade entre prefeito e governador está mais visível desde 2024, quando ficou a cargo de Tarcísio articular o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição do emedebista, anunciar o ex-coronel da Polícia Militar Ricardo Mello Araújo (PL) como seu vice e se tornar “a cara” de sua campanha quando o ex-coach Pablo Marçal (PRTB) cresceu nas pesquisas e chegou a ameaçar a ida do mandatário ao segundo turno, como relatou a IstoÉ.
Conforme fontes ligadas aos políticos, a promoção das ações de combate à cracolândia é central para os planos eleitorais de ambos, que entendem que a segurança pública será pauta prioritária no pleito de 2026.
Tarcísio se declara candidato à reeleição, enquanto Nunes promete voltar a ser empresário depois de encerrar seu mandato, mas há uma possibilidade de que o governador seja alçado a uma candidatura presidencial diante da inelegibilidade de Bolsonaro e o emedebista seja escolhido para sucedê-lo na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes — o que os move a reforçar a estratégia de associação.