O presidente Jair Bolsonaro tem um jeito malandro de fugir do escândalo da vacina Covaxin. Ele diz que não consegue controlar tudo o que acontece nos seus ministérios. E que foi incapaz de evitar o negócio suspeito com o imunizante indiano. Se isso é verdade, seria melhor ele colocar a viola no saco e pedir para sair. É a típica desculpa esfarrapada de alguém pego em flagrante. Dizer que ignora o que seus subordinados fazem debaixo de seu nariz é uma saída covarde, de um presidente que não assume sua responsabilidade sobre a estrutura que montou. Ainda mais quando se trata do Ministério da Saúde, comandado por Eduardo Pazuello e aparelhado por militares, ou seja, totalmente dominado por Bolsonaro.

Acusado pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) de ignorar avisos de supostas irregularidades no contrato de compra da Covaxin, como superfaturamento e favorecimento ilícito à Precisa, empresa responsável pela intermediação do negócio, Bolsonaro, em conversa com seguidores, reclamou de suas limitações para tomar as rédeas do governo e disse que não fez nada errado. O irmão do parlamentar, Luis Ricardo Miranda, chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, e autor da denúncia, afirmou, em depoimento à CPI da Covid, ter informado ao presidente de três nomes de pessoas que o pressionaram a efetuar a importação da Covaxin. Bolsonaro tinha informações, mas preferiu encobrir o malfeito e agora se refugia na mentira.

Seu argumento é que não dá para cuidar de tudo. E ele tem a desfaçatez de dizer que nem sabia como estava a questão da tratativa da Covaxin. “Somos 22 ministérios e só o ministério do Rogério Marinho tem 20 mil obras. Tem o Tarcísio (Freitas, ministro da Infraestrutura), tem a Damares (Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos), o da Justiça, da Educação… Não tenho como saber o que acontece nos ministérios, vou na confiança em cima de ministro”, disse Bolsonaro. “E nada fizemos de errado. Agora botam a narrativa de que vacina fissura o governo no tocante à corrupção.” Conversa fiada. É claro que cuidar do governo é tarefa muito complexa para Bolsonaro, mas ele sabe perfeitamente o que seus paus-mandados fazem. O problema é que ele não está na presidência para cuidar do que quer que seja. Seu objetivo é confundir e ludibriar.