Ao menos duas pessoas morreram nesta sexta-feira (9) em atos de violência após as eleições no Paquistão, onde os candidatos ligados ao ex-primeiro-ministro preso Imran Khan lideram a lenta contagem de votos, em um pleito marcado por suspeitas de manipulação.

Mesmo que os resultados sejam confirmados, o partido ‘Pakistan Tehreek-e-Insaf’ (PTI) de Khan não tem garantia de poder formar um governo nessa república islâmica de 240 milhões de habitantes.

Os outros dois partidos que disputam o Poder Legislativo no país, dotado de armas nucleares, são a Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N) e o Partido do Povo Paquistanês (PPP).

Nenhum dos três conseguirá obter a maioria absoluta, então o vencedor terá que forjar alianças, de acordo com as projeções.

Todas as opções estão em aberto, embora a PML-N, da família Sharif, ainda seja a formação melhor posicionada para isso.

“Não temos maioria para governar sozinhos, então convidamos os outros partidos e os candidatos vencedores a trabalharem conosco”, disse Nawaz Sharif, que já exerceu três mandatos como primeiro-ministro.

Sharif, 74 anos, que retornou do exílio em outubro, contaria com o apoio do Exército, segundo observadores.

O partido de Khan, por outro lado, não foi autorizado a figurar nas cédulas, o que obrigou seus candidatos a concorrerem como independentes.

Apesar disso, os últimos resultados oficiais preliminares dão 92 assentos aos independentes – a grande maioria vinculada ao PTI -, em comparação com 63 para a PML-N. E o PPP, de Bilawal Bhutto Zardari, obteria 50 cadeiras.

Os resultados referem-se a 225 dos 266 distritos em disputa, e a lentidão na apuração exacerbou as suspeitas de manipulação contra o PTI.

– ‘Problemas de internet’ –

As eleições de quinta-feira, com 128 milhões de eleitores registrados, foram marcadas pela violência.

Duas pessoas morreram nesta sexta-feira no noroeste do país, em confrontos entre a polícia e apoiadores de Khan, o ex-primeiro-ministro que venceu as eleições de 2018.

“Dois manifestantes foram atingidos por pedras e perderam a vida” no distrito de Shangla, na província de Khyber Pakhtunkhwa, bastião do PTI, segundo a polícia local.

Também houve protestos em Peshawar, capital da província, e em Quetta, na conflituosa região de Baluchistão, no sudoeste do país.

Na quarta-feira, duas explosões reivindicadas pelo grupo Estado Islâmico (EI) deixaram 28 mortos na mesma região.

O Ministério do Interior informou nesta sexta-feira que foram registrados 61 ataques no dia anterior, com um balanço de 16 mortos e 54 feridos.

Mais de 650 mil agentes da polícia e paramilitares foram mobilizados para garantir a segurança das eleições.

Para muitos eleitores de Khan, o atraso na divulgação dos resultados reforçou as suspeitas de fraude. A Comissão Eleitoral, no entanto, insistiu que o atraso se deve a “problemas de internet”, após o corte nos serviços de telefonia e internet na quinta-feira.

O Reino Unido expressou nesta sexta-feira sua “grave preocupação” com o processo eleitoral, enquanto os Estados Unidos afirmaram que “as denúncias de interferência ou fraude devem ser investigadas a fundo”.

– Acusações de fraude –

A campanha foi marcada por acusações de “fraudes pré-eleitorais”, com a inabilitação de Khan, condenado a três longas penas de prisão dois dias antes da votação, e seu partido sendo alvo de grande repressão.

A Assembleia Nacional tem 336 cadeiras, 70 das quais são reservadas para mulheres e minorias religiosas e atribuídas proporcionalmente.

PML-N e PPP formaram um governo de coalizão, sob a liderança de Shehbaz Sharif, irmão de Nawaz, depois da destituição de Imran Khan do cargo de primeiro-ministro com uma moção de censura em 2022.

O PPP distanciou-se da PML-N durante a campanha. Seu líder, Bilawal Bhutto Zardari, filho da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, assassinada em 2007, mencionou resultados “muito promissores”.

A postura antissistema de Khan, um ex-astro do críquete, explica por que sua popularidade permaneceu intacta, apesar do declínio econômico que caracterizou seu mandato.

Khan também é conhecido por ter desafiado os militares, que governaram o país por décadas e supostamente o apoiaram em 2018. O político acusou as forças armadas de orquestrarem sua queda em 2022.

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