Do aumento das tensões em conflitos geopolíticos a perspectivas sombrias para a economia mundial, de prováveis saídas para amenizar o aquecimento do planeta a desastres ambientais mais frequentes e perturbadores na vida de pessoas e empresas, de novos cenários que poderão se desenhar com as eleições nos Estados Unidos às ameaças trazidas pela Inteligência Artificial, essas foram as principais cartas colocadas nas mesas de discussões no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Representado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o Brasil teve uma participação mais discreta, com foco nos debates sobre transição energética e questões climáticas.

Os ataques do Irã em alvos no Paquistão, Iraque e na Síria, ocorridos enquanto se desenrolava o encontro mundial, roubaram a cena e elevaram o grau de preocupação de líderes e empresariado mundiais.

“Existe uma divisão no mundo, a grande divergência é entre EUA, de um lado, e Rússia e China, de outro,” avalia o professor Paulo Feldmann da FIA Business School. “Davos é fortemente voltado para o lado ocidental, é fechado com EUA e o mundo ocidental. A conjuntura geopolítica mundial é complicada porque esses conflitos podem impactar a economia global, todos são em áreas muito delicadas, em que o petróleo é importantíssimo”.

E, considerando essa divisão mundial, preocupa também a guerra na Ucrânia que, longe de estar controlada, ainda pode se alastrar e provocar nova crise energética, especialmente em países europeus. A Alemanha teve seu pior desempenho econômico em 20 anos.

Para o professor Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas, “a Europa ainda se movimenta e se recupera dos efeitos da falta de insumos energéticos, mas a um custo elevado”. Segundo Marconi, a inflação vem caindo nos últimos meses, tanto na Europa como nos Estados Unidos, mas ainda está em alta na Inglaterra, o que pode provocar um repique.

“Qualquer mudança de oferta desses produtos pode provocar aumento de custo e queda de produtividade novamente”, afirma.

Ainda que o Banco Central Europeu tenha sinalizado, em painéis do Fórum, o início da queda dos juros ainda para este ano, a evolução das guerras pode atrapalhar esses planos.

Marina Silva, em Davos: o Brasil pode ser favorecido com decisões da Europa em suas relações comerciais (Crédito:Divulgação)

Do outro lado do mundo, chamam a atenção também as recentes eleições em Taiwan, que colocaram no poder o candidato de maior oposição à China.

Para Marconi, essa não é uma preocupação imediata, não está no horizonte, mas, para Feldmann, o caldeirão está mais quente do que se imagina, porque para a China o resultado foi uma derrota.

“Os chineses não admitem que Taiwan seja outro país, é um consenso entre eles e uma questão meio de orgulho nacional. Eles não vão deixar essa coisa passar tranquilamente, estão esperando o momento adequado para invadir a ilha, e há uma grande possibilidade de fazerem isso ainda este ano”, alerta Feldmann.

Todas as questões geopolíticas ganham ingrediente complicador com o que pode acontecer com as eleições americanas. Com a eventual eleição de Trump, os conflitos podem se acirrar e adquirir novas proporções.

“Existe uma divisão no mundo, a grande divergência é entre EUA, de um lado, e Rússia e China, de outro.”
Paulo Feldmann, FIA Business School

E o Brasil?

Do ponto de vista diplomático, o País vai recuperando sua imagem de negociador, com erros e acertos, mas seu papel é secundário numa reunião desse porte, considera o professor da FGV.

E isso porque o Brasil tem reforçado a posição de um país exportador de commodities, o que gera a preocupação dos países sobre a continuidade de fornecimento dos produtos, se esse será afetado pelos problemas climáticos e se haverá estabilidade política e econômica que não atrapalhe esse fluxo comercial de negócios.

“Viramos um país agrícola, um grande exportador, fizemos com isso um saldo comercial de mais de US$ 100 bilhões, mas há algum país desenvolvido à base de produto agrícola?”, questiona Feldmann, que também lamenta a desindustrialização do Brasil, a maior do mundo segundo o Banco Mundial, e o crescimento de importação de produtos industrializados. “Apesar dos pesares, nesse momento de conturbação mundial, o Brasil pode ter alguma vantagem por estar junto com os EUA e a China entre os três maiores produtores de alimentos do mundo”.

O País ganha algum destaque na agenda sobre energias renováveis, com a representação da ministra Marina Silva e do ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira.

O Brasil conta com sua matriz repleta de recursos e fontes naturais e poderá ser favorecido com decisões da Europa de manter relações comerciais com países sem emissão de CO2.

De acordo com Marconi, o Brasil tem condições de ser um produtor de energia limpa, mas o protagonismo virá com a produção e exportação dessa energia e não com o mero papel de exportador do insumo.

Os riscos iminentes do uso da Inteligência Artificial também foram avaliados diante da possibilidade de fraudes nas eleições pelo mundo todo e também de ameaças aos empregos com prováveis demissões em massa.