Confira última mensagem do Papa antes de morte

VATICANO, 21 ABR (ANSA) – O papa Francisco, que morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, lembrou de diversos conflitos que acontecem pelo mundo e destacou que a “paz é possível”, em sua última mensagem aos fiéis.   

No último domingo (20), o Pontífice apareceu na loggia central da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para a bênção “Urbi et Orbi” (“À cidade e ao mundo”), que é pronunciada sempre nos dias de Páscoa e Natal e aborda as principais crises da atualidade.   

“Caros irmãos e irmãs, boa Páscoa”, disse Jorge Bergoglio, com a voz ainda fraca e ofegante, para os 35 mil fiéis reunidos na Praça São Pedro, onde foi possível ouvir gritos de “viva o Papa”. Em seguida, Jorge Bergoglio encarregou o mestre das celebrações litúrgicas pontifícias, Diego Ravelli, de ler a bênção pascal, que alertou para o estado atual do mundo.   

“Quanto desejo de morte vemos todos os dias em tantos conflitos que ocorrem em diferentes partes do mundo! Quanta violência vemos com frequência também nas famílias, dirigida contra as mulheres ou crianças! Quanto desprezo se sente por vezes em relação aos mais fracos, marginalizados e migrantes”, disse o Papa no texto lido por Ravelli.   

Em seguida, o líder da Igreja Católica pediu que as pessoas “voltem a ter esperança e confiança umas nas outras”, incluindo naquelas que “não são próximas” e têm “modos de vida, ideias e costumes diferentes dos que nos são familiares”, antes de renovar o apelo por paz na Faixa de Gaza.   

“É preocupante o crescente clima de antissemitismo que se espalha por todo o mundo. E, ao mesmo tempo, o meu pensamento dirige-se à comunidade cristã de Gaza, onde o terrível conflito continua a gerar morte e destruição e a provocar uma situação humanitária dramática e ignóbil. Apelo às partes beligerantes que cheguem a um cessar-fogo, que se libertem os reféns e se preste assistência à população faminta, desejosa de um futuro de paz”, acrescentou.   

Francisco também expressou apoio às “comunidades cristãs do Líbano e da Síria, que anseiam por estabilidade”, e dirigiu um “pensamento especial ao povo do Iêmen, que vive uma das piores crises humanitárias do mundo devido à guerra”.   

O Papa ainda pediu uma “paz justa e duradoura” para a “martirizada Ucrânia”, reconciliação entre Armênia e Azerbaijão no Cáucaso e “propósitos de concórdia” nos Bálcãs Ocidentais, com um apelo para os líderes políticos da região – palco de tensões em países como a Sérvia – evitarem “uma escalada de crises”.   

Além disso, citou os conflitos em curso na África, muitas vezes esquecidos pelo restante da comunidade internacional. “Que Cristo ressuscitado conceda paz e conforto aos povos africanos vítimas de violência e conflitos, especialmente na República Democrática do Congo, no Sudão e no Sudão do Sul, e apoie todos os que sofrem devido às tensões no Sahel, no Chifre de África e na região dos Grandes Lagos, tal como os cristãos que, em muitos lugares, não podem professar livremente a fé”, disse.   

Bergoglio também dedicou uma lembrança a Myanmar, país asiático que vive quatro anos de guerra civil após um golpe de Estado em fevereiro de 2021 e ainda enfrenta os efeitos de um terremoto devastador que deixou mais de 3,7 mil mortos.   

“Neste momento, não falte a nossa ajuda ao povo do Myanmar, que, atormentado por anos de conflito armado, enfrenta com coragem e paciência as consequências do devastador sismo em Sagaing, causador da morte de milhares de pessoas e de sofrimento para muitos sobreviventes, incluindo órfãos e idosos. O anúncio do cessar-fogo por parte de vários intervenientes no país é um sinal de esperança”, salientou.   

Na bênção pascal, o Papa ainda condenou a “corrida generalizada ao armamento” e pediu a “derrubada das barreiras que criam divisões e acarretam consequências políticas e econômicas”, em uma possível referência às medidas adotadas em seu início de mandato pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cujo vice, J.D. Vance, se reuniu brevemente com Francisco.   

“Apelo a todos os que têm responsabilidades políticas para que não cedam à lógica do medo que fecha, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento. Estas são as armas da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte! Perante a crueldade dos conflitos que atingem civis indefesos, atacam escolas e hospitais e agentes humanitários, não podemos esquecer que não são atingidos alvos, mas pessoas com alma e dignidade”, declarou.   

Líder da Igreja Católica Romana por mais de uma década, Bergoglio morreu aos 88 anos, após uma longa batalha contra a pneumonia. (ANSA).