Confira a homilia completa da missa de abertura do conclave

VATICANO, 7 MAI (ANSA) – Os cardeais da Igreja Católica celebraram na manhã desta quarta-feira (7) na Basílica de São Pedro, no Vaticano, a tradicional missa “Pro Eligendo Romano Pontifice, que antecede as votações do primeiro dia do conclave que definirá o sucessor do papa Francisco.   

A missa foi concelebrada por 220 cardeais, incluindo os 133 eleitores, e presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re. Veja a íntegra da homilia feita pelo cardeal italiano: “Nos Atos dos Apóstolos, lê-se que após a ascensão de Cristo ao céu, e enquanto aguardavam o dia de Pentecostes, todos perseveravam e estavam unidos em oração com Maria, a Mãe de Jesus (cf. Act 1, 14).   

É exatamente isso o que nós também estamos a fazer, a poucas horas do início do Conclave, sob o olhar da Virgem Maria colocada ao lado do altar, nesta Basílica que se ergue sobre o túmulo do Apóstolo Pedro.   

Sentimos unido a nós todo o povo de Deus, com o seu sentido de fé, de amor ao papa e de espera confiante.   

Estamos aqui para invocar a ajuda do Espírito Santo, para implorar a sua luz e a sua força, a fim de que seja eleito o papa que a Igreja e a humanidade precisam neste momento tão difícil e complexo da história.   

Rezar, invocando o Espírito Santo, é a única atitude justa e necessária, enquanto os Cardeais eleitores se preparam para um ato de máxima responsabilidade humana e eclesial e para uma escolha de excepcional importância; um ato humano pelo qual se deve deixar de lado qualquer consideração pessoal, tendo na mente e no coração apenas o Deus de Jesus Cristo e o bem da Igreja e da humanidade.   

No Evangelho que foi proclamado, ressoaram palavras que nos conduzem ao coração da suprema mensagem-testamento de Jesus, confiada aos seus Apóstolos na noite da Última Ceia, no Cenáculo: ‘É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15, 12). E quase para precisar este ‘como Eu vos amei’ e indicar até onde deve chegar o nosso amor, Jesus afirma a seguir: ‘Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos’ (Jo 15, 13).   

É a mensagem do amor, que Jesus define como ‘novo’ mandamento.   

Novo porque amplia grandemente, transformando-a em positiva, a advertência do Antigo Testamento, que dizia: ‘Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti’.   

O amor que Jesus revela não conhece limites e deve caracterizar os pensamentos e as ações de todos os seus discípulos, que devem sempre demonstrar amor autêntico em seu comportamento e empenhar-se na construção de uma nova civilização, aquela que Paulo VI chamou de ‘civilização do amor’. O amor é a única força capaz de mudar o mundo.   

Jesus deu-nos o exemplo desse amor no início da Última Ceia com um gesto surpreendente: abaixou-se para servir os outros, lavando os pés dos Apóstolos, sem discriminação, sem excluir Judas, que o trairia.   

Esta mensagem de Jesus está relacionada com o que ouvimos na primeira leitura da Missa, na qual o profeta Isaías nos lembrou que a qualidade fundamental dos Pastores é o amor até à entrega total de si mesmo.   

Surge, portanto, dos textos litúrgicos desta celebração eucarística, um convite ao amor fraterno, à ajuda recíproca e ao empenho em favor da comunhão eclesial e da fraternidade humana universal. Entre as tarefas de cada sucessor de Pedro conta-se a de fazer crescer a comunhão: comunhão de todos os cristãos com Cristo, comunhão dos bispos com o papa e comunhão dos Bispos entre si. Não uma comunhão autorreferencial, mas totalmente orientada para a comunhão entre as pessoas, os povos e as culturas, tendo sempre em vista que a Igreja seja ‘casa e escola de comunhão’.   

Além disso, é forte o apelo à manutenção da unidade da Igreja segundo o caminho indicado por Cristo aos Apóstolos. A unidade da Igreja é desejada por Cristo, uma unidade que não significa uniformidade, mas comunhão sólida e profunda na diversidade, desde que se permaneça plenamente fiel ao Evangelho.   

Cada papa continua a encarnar Pedro e esta é a sua missão e, assim, representa Cristo na terra; ele é a rocha sobre a qual a Igreja é edificada (cf. Mt 16, 18). A eleição do novo papa não é uma simples sucessão de pessoas, mas é sempre o Apóstolo Pedro que retorna.   

Os cardeais eleitores expressarão o seu voto na Capela Sistina, onde, como diz a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, ‘tudo concorre para avivar a consciência da presença de Deus, diante do qual deverá cada um apresentar-se um dia para ser julgado’.   

No Tríptico Romano, o papa João Paulo II desejava que, nas horas da grande decisão através do voto, a imagem imponente de Cristo Juiz, pintada por Michelangelo, lembrasse a cada um a grande responsabilidade de colocar as ‘chaves supremas’ (Dante) nas mãos certas.   

Rezemos, portanto, para que o Espírito Santo, que nos últimos 100 anos nos deu uma série de pontífices verdadeiramente santos e notáveis, nos conceda um novo papa segundo o coração de Deus, para o bem da Igreja e da humanidade.   

Oremos para que Deus conceda à Igreja o papa que melhor saiba despertar as consciências de todos e as energias morais e espirituais na sociedade atual, caracterizada por um grande progresso tecnológico, mas que tende a esquecer Deus.   

O mundo de hoje espera muito da Igreja para a salvaguarda daqueles valores fundamentais, humanos e espirituais, sem os quais a convivência humana nem será melhor nem beneficiará as gerações futuras.   

Que a Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe da Igreja, nos auxilie com a sua materna intercessão, para que o Espírito Santo ilumine as mentes dos Cardeais eleitores e os torne concordes na eleição do papa de que o nosso tempo necessita”. (ANSA).