A conferência de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza alcançou, nesta quinta-feira (9), compromissos de novos aportes de mais de um bilhão de dólares, em meio a apelos de “cessar-fogo” neste território palestino bombardeado por Israel desde 7 de outubro.

Nesse dia, Israel iniciou uma campanha de bombardeios em Gaza em resposta ao ataque do movimento islamista Hamas, que matou mais de 1.400 pessoas, a maioria civis, em território israelense. Além disso, o grupo palestino mantém 240 reféns, segundo as autoridades.

Mais de 10.000 pessoas, a maioria civis e incluindo mais de 4.000 menores de idade, morreram nos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, um território estreito de 360 quilômetros quadrados, onde moram 2,4 milhões de pessoas, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

A conferência, realizada em Paris, com a ausência de Israel e de altos funcionários árabes, pretendia reunir os principais doadores e acelerar a ajuda – alimentos, energia e equipamentos médicos – para o pequeno território fronteiriço com Israel e Egito.

Os organizadores anunciaram que foram alcançados compromissos de mais de um bilhão de euros (US$ 1,07 bilhão ou R$ 5,24 bilhões, na cotação atual), embora tenham explicado que estes compromissos podem incluir, a depender do caso, contribuições já anunciadas desde 7 de outubro.

A ONU calcula que 1,2 bilhão de dólares (aproximadamente R$ 6 bilhões) são necessários para ajudar os moradores de Gaza e da Cisjordânia até o fim do ano e alerta para uma “situação humanitária desastrosa” no norte do território palestino.

“Não há crise humanitária na Faixa de Gaza”, afirmou nesta quinta Moshe Tetro, um dirigente militar israelense, admitindo à imprensa em seu país as “muitas dificuldades” que os civis enfrentam neste território.

– Rumo a uma “pausa” humanitária? –

A conferência, da qual se ausentaram representantes de alto nível, exceto alguns dirigentes europeus e o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammed Shtayyeh, também foi marcada pelos pedidos de um “cessar-fogo”.

Depois de reiterar o direito de defesa de Israel, mas respeitando o direito internacional, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que a proteção dos civis deve ser uma prioridade. “Isto requer uma pausa humanitária muito rápida e temos que trabalhar para conseguir um cessar-fogo”, disse.

“Quantos palestinos têm que morrer para que a guerra termine?”, questionou Shtayyeh, listando as necessidades: atender os feridos e fornecer água, energia elétrica e medicamentos.

O representante do Brasil na conferência, o ex-chanceler Celso Amorim, condenou “os ataques terroristas” do Hamas contra Israel, mas avaliou que a morte de “milhares” de crianças em bombardeios israelenses remete a um “genocídio”.

“As Nações Unidas nunca registraram tantos mortos em tão pouco tempo em um conflito”, afirmou nesta quinta à rádio France Inter o chefe da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini.

Apesar de os apelos por “pausas” humanitárias, “tréguas” ou “cessar-fogo” terem aumentado nas últimas semanas, o primeiro-ministro de Israel insiste em afirmar que a ofensiva prosseguirá enquanto o Hamas não libertar os reféns.

Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira que Israel aceitou fazer “pausas” militares de quatro horas diárias no norte da Faixa.

O Catar, por sua vez, negocia com Washington e Israel “uma possível pausa humanitária, que envolveria a liberação de reféns e a entrada de mais ajuda em Gaza”, segundo um responsável próximo às discussões.

– “Impotência” humanitária –

Uma dezena de ONGs expressaram seu descontentamento durante uma coletiva de imprensa conjunta após a conferência.

“Estamos bastante decepcionados porque não houve consenso sobre um cessar-fogo imediato (…) Para além da ajuda mobilizada, o objetivo é fazê-la entrar em Gaza”, disse Jean-François Corty, da Médicos do Mundo.

As organizações humanitárias se preocupam em se tornar “espectadores impotentes” de uma situação que muitas delas consideram sem precedentes em Gaza.

“Estamos presentes na região desde 1949 e nossos colegas nos dizem que é a situação mais grave, mais trágica, que já viveram”, disse Cécile Duflot, da ONG Oxfam.

Segundo Isabelle Dufouny, da Médicos sem Fronteiras, “o pessoal nos hospitais enfrenta chegadas maciças de feridos, trabalham em condições de higiene horríveis, não conseguem descansar, estão submetidos a um estresse permanente”.

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