Alunos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus Diadema, na Grande São Paulo, estão com greve marcada para o primeiro semestre de 2024. Os estudantes pretendem não voltar às aulas enquanto problemas estruturais graves não forem solucionados.

Segundo depoimentos obtidos pela IstoÉ, as questões de infraestrutura que interferem no trabalho dos docentes e na educação dos estudantes incluem falta de energia e água no campus, ventilação insuficiente, valores de auxílio insuficientes ou inexistentes, comida de baixa qualidade e em pouca quantidade e transporte precário.

Uma reunião com a Reitoria da Universidade em 16 de novembro motivou o indicativo de greve para o semestre seguinte. De acordo com Gabriela Menezes, estudante de graduação em Farmácia na universidade, as respostas obtidas às reinvindicações do corpo discente foram insatisfatórias.

Falta de energia, água e ventilação

Gabriela conta que, durante a onda de calor de novembro de 2023, teve aulas normais em salas sem ventilação. “Em um dos dias mais quentes estava sem energia, então estávamos sem luz e sem comida. A falta de luz gerou falta de água nos bebedouros e nos banheiros. Ventilação a gente não tem, mesmo”, relata.

A falta de energia, ao que parece, é recorrente na Universidade. Em uma pasta compartilhada na nuvem, alunos compartilham fotos de diversas ocasiões em que ficam no escuro, bem como e-mails de professores cancelando aulas por tal motivo.

Comunicado de aulas canceladas devido à falta de energia na UNIFESP Diadema
Comunicado de aulas canceladas devido à falta de energia na UNIFESP Diadema (Crédito:Divulgação)

Alimentação e transportes

A comida fornecida no Restaurante Universitário também é fonte de reclamação dos alunos, que já encontraram objetos estranhos e até sofreram lesões.

“Tenho um trinco no dente por conta do arroz do R.U. Eu percebi uma pedra já comendo, mas achei que poderia ser algum pedaço de osso de frango e, por isso, mordi. Quando fiz isso, senti farelos na minha boca — eram restos do meu dente” detalha Guilherme Prigenzi Prino, do curso Ciências Biológicas. Ele ainda contou que entregou a Pedra à nutricionista do restaurante, mas nada foi feito.

Além disso, a comida fornecida é, muitas vezes, insuficiente.

Alunos encontraram larvas na salada oferecida pelo restaurante universitário
Alunos encontraram larvas na salada oferecida pelo restaurante universitário (Crédito:Divulgação)

E o transporte não fica para trás quando o assunto é pouca qualidade. Com o campus sendo dividido em três unidades (Complexo Didático, Prédio de Vidro e Eldorado), o transporte de alunos é feito em micro-ônibus que estão caindo aos pedaços.

“O estado de manutenção desses veículos é bastante precário. A pouca frequência com que rodam faz com que, frequentemente, a superlotação coloque nossa integridade física em risco. Já contamos mais de 75 pessoas em um percurso realizado do Eldorado para o Complexo Didático”, detalha Gabriela.

O estudante Caetano, de Ciências Ambientais, é um dos que já arriscaram sua integridade física nos ônibus. Em novembro, ele participava de uma saída de campo com cerca de 40 alunos e dois professores quando um dos veículos perdeu força e teve de ser empurrado.

“A gente estava percebendo que o ônibus estava com alguns problemas e estávamos sentindo cheiro de borracha queimada. Quando ele ‘encalhou’, todos nós, alunos e professores, tivemos que empurrar o ônibus para ele desencalhar. Não é que ele tinha perdido o contato com o asfalto, ele realmente não tinha forças para seguir a viagem”, narrou.

“Relatamos o problema e a resposta da diretoria foi que o ônibus havia passado por uma revisão e que a culpa foi do motorista. Só que o motorista percebeu que somente a terceira e a sexta marchas estavam pegando força”, continuou ele.

O episódio fez com que, por segurança, os estudantes e docentes desistissem de completar o trajeto, que deveria ser parte do aprendizado.

Evasão estudantil

A manifestação dos discentes ainda inclui as condições favoráveis à evasão estudantil. Segundo depoimentos, os valores de auxílio que deveriam ser pagos pela universidade são insuficientes para a permanência dos alunos, além de que muitos não teriam recebido o valor devido ainda em 2023.

Prevista no plano do campus, a moradia estudantil também ainda não está disponível na Unifesp Diadema. Estes problemas favorecem o abandono de muitos alunos que não têm como se manter na universidade.

O que diz a Reitoria

Procurada pela reportagem, a Reitoria do campus se pronunciou por meio de sua assessoria de imprensa. Leia:

NOTA DE ESCLARECIMENTO DA UNIFESP

Esclarecemos que a Unifesp é uma universidade que compõe o sistema federal de universidades públicas brasileiras e atualmente é composta por sete campi e que realiza sua gestão político-pedagógica e administrativo-financeira de forma descentralizada.

Em relação ao campus Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a instituição esclarece que a Reitoria e as pró-reitorias estão acompanhando as questões apresentadas pela mobilização dos(as) estudantes, em conjunto com a direção acadêmica do campus, promovendo diálogo e uma série de ações de curto, médio e longo prazo.

Buscando manter a transparência permanente com a comunidade acadêmica do campus Diadema, foram realizadas duas reuniões entre a direção, a gestão central da Universidade e a comunidade local, respectivamente nos dias 16 e 21 de novembro. Já em 17 de novembro ocorreu uma reunião emergencial da Comissão Local de Alimentação, com a presença da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Políticas
Afirmativas (Praepa). Além disso, houve a instalação de um grupo de trabalho permanente entre gestores e representantes estudantis para discutir as questões de Infraestrutura apresentadas pelos(as) estudantes.

Em relação às demandas referentes à alimentação oferecida no restaurante universitário, a direção do campus comunicou que já existe um processo para licitação e contratação de um novo fornecedor de restaurante e cantina. Além disso, eventuais falhas cometidas pela empresa são notificadas e, nos casos cabíveis, penalizadas, com base nos termos previstos em contrato.

No que diz respeito à falta de energia, a Pró-Reitoria de Planejamento informou que houve a queima de equipamentos da cabine primária do edifício de acesso, provavelmente ocasionada por oscilação na rede externa, muito comum na região. Enquanto as peças eram adquiridas, um gerador adicional foi contratado para manter o fornecimento de energia.

Em relação aos conteúdos que seriam abordados nas aulas canceladas em razão da falta de energia, houve reunião entre a Pró-Reitoria de Graduação e a Câmara de Graduação do campus, que decidiu pela reposição pelos(as) docentes responsáveis, de modo a garantir o cumprimento do planejamento previsto nas unidades curriculares.

Por fim, a Reitoria da Unifesp, as pró-reitorias e a direção do campus declaram que respeitam as decisões tomadas pelos(as) estudantes e se mantêm abertas ao diálogo e comprometidas a realizar as ações encaminhadas nas reuniões e, em conjunto com as demais Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), a recomposição do orçamento para 2024 junto ao Governo Federal e aos(as) parlamentares, com o compromisso permanente de lutar pela universidade pública, gratuita, laica e de qualidade para todos(as).