O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, destacou nesta quinta-feira, 16, que as condições financeiras tiveram grande aperto de setembro para cá, o que influenciou na revisão da projeção do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022. A autoridade monetária reduziu sua estimativa para o crescimento do próximo ano de 2,1% para 1,00%.

“Em economias desenvolvidas, condições financeiras mais apertadas significam inflação menor. Já no Brasil e nos emergentes, apertos de condições financeiras estão normalmente ligadas à piora risco fiscal. A parte mais longa (da curva) sobe, o CDS sobe, o real deprecia e assim por diante. Isso implica em menor crescimento e tipicamente até em maior inflação. Nesse sentido, é semelhante a um choque de oferta, e as implicações para a política monetária são bem mais ambíguas”, afirmou o diretor, em coletiva sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI). “Faz mais sentido pensar que aumento de risco fiscal tem implicações negativas para inflação”, completou.

Desapontamento

Kanczuk reconheceu que há desapontamento com atividade de curto prazo, com leve tendência de queda, gerando revisões nas projeções do BC para o PIB. A autoridade monetária reduziu sua estimativa para o crescimento do de 2022, de 2,1% para 1,00%. “A revisão de 2021 é pequena e uma reação à decepção de dados recentes”, explicou.

Já para 2022, a revisão considera que a contribuição da agropecuária será melhor após a queda deste ano. A autoridade monetária reduziu sua estimativa para o crescimento do PIB de 2022, de 2,1% para 1,00%. “Em 2022, há perspectiva de safras melhores, o que ajuda PIB e pode explicar diferença em relação Focus. Ainda assim, a redução de projeção de PIB de 2022 deve-se à piora de condições financeiras, que pega no consumo das famílias e nos investimentos”, completou.

Para Kanczuk, os serviços estão voltando no Brasil e devem ajudar atividade no ano que vem “Porém, o consumo de duráveis no Brasil não é tão exuberante quanto EUA. No Brasil, parece ter tanto mais demanda de duráveis quanto menos oferta. A indústria brasileira tem tido dificuldades em conseguir alguns insumos e os preços de industriais tiveram uma alta imensa”, afirmou.

EUA

O diretor de Política Econômica do Banco Central avaliou também que, enquanto a atividade econômica segue em recuperação nos Estados Unidos, a inflação norte-americana continua em alta. “Há três meses discutimos se havia alguma surpresa possível (para baixo) na atividade nos Estados Unidos e notamos que não houve essa surpresa. A atividade continua firme nos EUA, sem nada acontecendo de relevante nesse ângulo. Já na parte de inflação aconteceu muita coisa, com alta nas expectativas. Isso levou a uma reprecificação na taxa de juros e a uma mudança de linguagem pelo Fed”, afirmou.

Segundo Kanczuk, a inflação nos EUA está diretamente relacionada à demanda e não a um choque de oferta, com se debateu inicialmente. “Mudou a avaliação sobre inflação nos EUA e no mundo, com aumento da demanda. Parte decorre da mudança da demanda dos serviços para bens industriais e parte pelos estímulos concedidos”, afirmou. “Os preços de duráveis crescem muito mais que a redução dos preços dos serviços, o que levou a uma inflação bem maior do que se esperava”, completou.

Commodities em dólar

O diretor de Política Econômica do Banco Central disse ainda que tem havido um aumento de volatilidade e um pouco de queda nos preços de commodities em dólar, mas considerou que ainda é muito cedo para dizer o que vai acontecer com os preços desses produtos.

“Essa queda se torna mais expressiva se separarmos as commodities de agropecuária, que continuam em alta, as metálicas, com um pouco de queda, e as energéticas, com uma queda impressionante. Essa baixa de commodities energéticas antes do Copom influencia projeções de balança comercial e inflação de curto prazo. Mas está tudo muito volátil e tudo pode mudar, não dá para dar muito peso para queda de commodities”, afirmou Kanczuk, na entrevista coletiva sobre o Relatório Trimestral de Inflação.