O conclave para a eleição do sucessor do papa Francisco começará em 7 de maio, decidiram nesta segunda-feira (28) os cardeais da Igreja Católica, que destacaram o combate aos abusos sexuais clericais entre os desafios do próximo pontífice.
Os chamados “príncipes da Igreja” ficarão trancados a partir de quarta-feira, 7 de maio, na majestosa Capela Sistina para eleger o novo líder espiritual de 1,4 bilhão de fiéis.
A data foi definida na quinta reunião cardinalícia desde a morte do primeiro papa latino-americano, que abordou “temas de particular relevância para o futuro da Igreja”.
“A relação com o mundo contemporâneo e alguns dos desafios que se destacam: a evangelização, a relação com outras confissões, a questão dos abusos”, afirmou o Vaticano em um comunicado.
A avalanche de revelações sobre crimes sexuais do clero foi um dos desafios mais dolorosos de Francisco, que sancionou prelados e tornou obrigatório denunciar qualquer fato suspeito.
O jesuíta argentino foi enterrado no sábado, após uma cerimônia solene de despedida na presença de líderes internacionais e de 400.000 pessoas.
A ansiedade domina os fiéis antes do conclave.
Patricia Spotti espera que o novo pontífice “seja como o papa que faleceu”. “Deve ter uma personalidade aberta para todos”, disse à AFP esta mulher de 68 anos que viajou de Milão a Roma para o Ano do Jubileu, celebrado em 2025.
– Conclave longo –
Os cardeais participarão na quarta-feira da próxima semana em uma missa solene na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Aqueles com direito a voto – os que têm menos de 80 anos – ficarão fechados para votar em um processo secreto, que pode durar vários dias.
O Vaticano ainda não confirmou quantos dos 135 “cardeais eleitores” participarão do conclave. Um total de 80% deles foram designados por Francisco, muitos procedem de regiões do mundo historicamente marginalizadas pela Igreja e muitos não se conhecem.
“Nosso desejo é encontrar alguém que se pareça com Francisco, não que seja o mesmo, mas em continuidade”, declarou o cardeal argentino Ángel Sixto Rossi, de 66 anos.
Os dois últimos conclaves, de 2005 e 2013, duraram dois dias, mas o professor Roberto Regoli, da Universidade Pontifícia Gregoriana, acredita que este será mais longo. “Estamos em um período em que o catolicismo está enfrentando várias polarizações e os cardeais terão que encontrar alguém que saiba forjar uma unidade maior”, disse.
O italiano Pietro Parolin aparece como um dos favoritos, à medida que aumentam os conflitos e as crises diplomáticas no mundo. O cardeal atuou como secretário de Estado com Francisco, depois de ocupar o posto de núncio na Venezuela.
A casa de apostas britânica William Hill o coloca à frente do filipino Luis Antonio Tagle, seguido do cardeal ganês Peter Turkson e do também italiano Matteo Zuppi.
– Como no filme? –
O conclave provoca fascínio há vários séculos. O recente filme homônimo do diretor alemão Edward Berger, que venceu em março o Oscar de melhor roteiro adaptado, popularizou ainda mais o evento.
“Mais da metade de nós viveremos nosso primeiro conclave. É uma oportunidade para mostrar ao mundo que filmes como ‘Conclave’ e outros semelhantes não são a realidade”, disse o cardeal espanhol Cristóbal López Romero ao portal oficial Vatican News.
O filme retrata o processo de eleição de um novo papa, em reuniões a portas fechadas. O relato fictício mostra as tensões entre diversas alas do Vaticano.
Mas as divisões dentro da Igreja não são uma ficção. As reformas impulsionadas por Francisco e seu estilo simples despertaram críticas entre os setores mais conservadores, que apostam em uma mudança mais focada na doutrina.
“Hoje, precisamos de união, não de divisão”, advertiu no domingo o cardeal do Mali Jean Zerbo, de 81 anos, após uma oração dos cardeais diante do túmulo de Francisco.