VATICANO, 1 MAI (ANSA) – Por Nina Fabrizio – A Igreja Católica Romana “não é um Parlamento, nem uma reunião política, mas uma convocação no Espírito”. Este é apenas o mais recente dos lembretes para se tentar raciocinar conforme os esquemas políticos que o papa Francisco lançou aos altos prelados por ocasião do Sínodo, em 4 de outubro de 2023.
Mas é evidente que nas congregações gerais pré-conclave, nas quais as candidaturas são estudadas e refinadas, é quase impossível não ser influenciado também pela percepção do posicionamento relacionado ao esquema “progressista-moderado-conservador” que cada cardeal tem de si mesmo e dos outros. Bastaria observar como eles entram e saem antes e depois das reuniões. Na Capela Sistina, serão 133 cardeais que votarão, com correntes e pensamentos diferentes, ainda que 80% deles tenham sido indicados por Francisco (108 foram criados pelo argentino, 22 por Bento XVI e cinco por João Paulo II).
Muitos dos indicados pelo último líder da Igreja Católica, porém, não têm necessariamente uma orientação semelhante à dele, assumindo que a de Jorge Bergoglio pode ser enquadrada no rótulo rígido do progressismo.
Americano é nome de força entre conservadores
O fato é que um grupo de oposição a ele, de natureza decididamente mais tradicionalista e conservadora, já surgiu durante seu pontificado. Entre eles, o americano Raymond Leo Burke, seu feroz oponente, que era frequentemente visto entrando nas congregações de braços dados com o africano Robert Sarah, também protagonista de um confronto com Bergoglio em tom pró-Ratzinger.
Esse grupo, que até pode contar com cerca de 20 votos, poderia convergir para um candidato como o húngaro Peter Erdo, que já foi candidato no conclave anterior e que não desagradaria aos poloneses e outros expoentes do Leste Europeu, todos em uma linha extremamente moderada.
Até mesmo o alemão Gerhard Ludwig Muller, rejeitado por Francisco no início de seu pontificado, já divulgou declarações que certamente o colocam entre aqueles que votarão em um candidato solidamente conservador.
Muitos africanos também poderiam se juntar a essa frente (eles levantaram barricadas unidas contra o documento “Fiducia supplicans” sobre bênçãos para uniões gays) e até mesmo um ruiniano como Giuseppe Betori, que assim se afastaria do grupo de italianos.
Italiano lidera progressistas
Na frente progressista, quem mais se afina com a pastoral de uma Igreja missionária, centrada nos últimos e frágeis de Francisco, é sem dúvida o principal nome da Comunidade de Sant’Egidio, o cardeal Matteo Zuppi, de 66 anos. O italiano é também forte em uma rede de relações e vínculos ramificados e globais como a da entidade.
Mais nas sombras, está o cardeal Mario Grech, o prelado a quem Francisco confiou sua mais nova “criatura”, o Sínodo e o caminho da Igreja sinodal. Maltês, afável, fluente em inglês e italiano, Grech pode ser uma carta escondida na linha de continuidade.
Já no centro estão as figuras de garantia e mediação, como o secretário de Estado de Francisco, Pietro Parolin, um excelente diplomata da escola de Achille Silvestrini, recém-saído do encontro presencial entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, antes do funeral de Bergoglio.
Justamente em relação ao encontro entre os dois líderes, rumores das últimas horas também dão conta de um ativismo ao estilo de conclave do próprio presidente norte-americano, que aparentemente “reservou” o cargo de secretário de Estado para seu favorito, o cardeal de Nova York, Timothy Dolan. Um conservador, sem dúvida, que já havia desempenhado o papel de “kingmaker” (“fazedor de reis”) no conclave anterior, quando muitos pensavam que Bergoglio seria um Papa manobrável. (ANSA).