O ano político ainda não começou. Permanecemos no compasso de espera do último trimestre de 2016. Não é possível supor até que ponto as delações da Odebrecht vão atingir o coração do sistema político. E outras delações – como a do casal João Santana e Mônica Moura – indicam que poderão ser explosivas. O que se sabe é que o Brasil não será o mesmo após a publicização dos depoimentos.

E essa é a questão central: tomar conhecimento dos esquemas criminosos que apresaram a estrutura do Estado brasileiro é condição sine qua non para caminharmos em direção a uma república de fato.

As tentativas de prolongar a crise vão se mostrando vitoriosas. O objetivo do projeto criminoso de poder, parte dois, é o de limitar a ação da Lava Jato, impor o voto em lista fechada, manter o foro privilegiado e anistiar o caixa dois. Contam com a maioria do Congresso Nacional, com a simpatia de boa parte dos ministros do STF, com o apoio de amplos setores no interior do Executivo federal e, na imprensa, com lacaios que vendem sua “opinião” por meio prato de lentilhas. Tudo sob o manto da “governabilidade”: as ações moralizadoras da República estariam criando um clima de incerteza e colocando em risco a recuperação econômica. Seria, portanto, necessário interromper esse processo que já teria ido longe demais. Esse é o discurso do poder. Tem a hegemonia. Transforma a ação republicana de Curitiba, por exemplo, em um ato de irresponsabilidade que tensionaria ainda mais o País.

É possível que essa manobra se imponha. Mantém-se no interior da velha tradição brasileira da conciliação. Seria necessário parar o carro revolucionário, como defendeu Bernardo Pereira de Vasconcelos durante o período regencial (1831-1840), em resposta às medidas descentralizadoras defendidas pelos liberais de então. Vencendo, o projeto criminoso de poder, parte dois, manterá a mesma estrutura de Estado herdada do petismo. Não fará nenhum trabalho saneador. Pelo contrário, vai interromper o que foi realizado até o momento. Permitirá apenas um rearranjo no interior da República, uma leve recuperação econômica, sem que os fatores estruturais da presente crise sejam enfrentados. Contudo, a curto prazo, voltaremos ao estágio atual ou até a uma situação de maior conflito. A vitória dos conciliadores será a derrota do Brasil.

O discurso do poder transforma a ação republicana de Curitiba em um ato de irresponsabilidade que tensionaria ainda mais o País