As concessões anunciadas pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e seu mea-culpa feito na televisão na segunda-feira (10) não convenceram o movimento dos “coletes amarelos”, que seguia mobilizado nesta terça e pode voltar a se manifestar no próximo sábado.

Na quarta semana de protestos deste movimento sem precedentes, os “coletes amarelos” – em menor número – mantinham suas operações de bloqueio e manifestações nas estradas e ruas da França.

Na manhã desta terça, pouco mais de 1.900 manifestantes e 40 operações de bloqueio foram registrados, segundo fonte policial questionada pela AFP.

O primeiro-ministro, Édouard Philippe, defendeu nesta terça na Assembleia nacional as medidas anunciadas na véspera pelo presidente, classificando-as como “maciças”. “Queremos ir rápido, queremos ir com força”, reiterou.

Entre outras medidas, Macron anunciou um aumento de 100 euros do salário mínimo, a anulação de um novo imposto para os aposentados com baixas pensões e a isenção de impostos e contribuições sociais sobre as horas extras.

As medidas de Macron parecem, contudo, não ser suficientes para pôr fim à crise que começou há mais de três semanas.

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“A maioria dos ‘coletes amarelos’ entenderam que foram apenas palavras, então não cederemos”, disse Charlène, desempregada de 30 anos de Rennes (oeste).

“Estaremos aqui todos os dias, no Natal, Ano Novo, até que isso não mude, estaremos aqui!”.

“A verdadeira questão é a distribuição de riqueza”, disse Jérôme, em uma rotatória em Saint-Etienne (centro-leste).

Esse gostaria que Macron tivesse anunciado a restauração do imposto sobre fortunas ou o abandono da isenção de impostos oferecida às empresas. “20 bilhões mal gastos”, lamentou.

Outros receberam os anúncios mais positivamente.

Jacline Mouraud, uma porta-voz voz dos “coletes amarelos” considerada moderada, pediu uma “trégua” e comemorou a “porta aberta” que o governo está oferecendo.

“Temos uma economia que afunda, lojas prestes a fechar. Não podemos ser responsáveis por quebradeiras”, disse ela, referindo-se aos estabelecimentos que tiveram de fechar as portas no sábado pelas violentas manifestações dos últimos sábados.

Diante da violência dos protestos, o governo tenta fazer de tudo para evitar um quinto sábado de mobilizações nacionais.

Desde o início das manifestações, em 17 de novembro, cinco pessoas já morreram e 1.407 ficaram feridas, 46 delas gravemente.

Nesse sentido, Macron advertiu, em seu pronunciamento de segunda-feira, que “a violência inadmissível (…) não se beneficiará de qualquer indulgência”.

Em geral, os franceses estão divididos diante da possível continuação dos protestos.


De acordo com uma pesquisa Odoxa divulgada na noite de segunda-feira, 54% dos franceses querem que as ações do movimento continuem, em comparação com 66% três semanas atrás.

Emmanuel Macron “não entendeu nada da raiva que se manifesta”, alegou a CGT. “Temos respostas de curto prazo, não temos respostas de médio e longo prazo”, disse Laurent Berger, líder do sindicato moderado CFDT.

Já o presidente da Comissão de Finanças da Assembleia Nacional, Eric Woerth (LR, direita), pediu aos manifestantes a liberação dos cruzamentos que estão sendo bloqueados em todo país.

Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical, apoia uma nova nova mobilização no próximo sábado, que seria a quinta, apesar da violência das anteriores.

Mais cautelosa, a presidente do partido de extrema direita, Marine Le Pen, pediu aos “coletes amarelos” que “analisassem” as propostas do presidente, para ver se ele havia ido “longe o suficiente”.

No total, as medidas custarão ao Estado cerca de 10 bilhões de euros, o que pode elevar o déficit público para mais de 3%, o limite fixado por Bruxelas – mas apenas “temporariamente”, garantiu o presidente da Assembleia Nacional, Richard Ferrand, do partido de Macron.

Após receber, na tarde desta terça, representantes do setor bancário, Macron se reunirá, amanhã, com grandes empresas, para lhes pedir que participem do “esforço coletivo”.

Entretanto, estudantes de Ensino Médio continuaram seus protestos, com outras demandas, mas seguindo o rastro dos “coletes amarelos”.

Na terça-feira, 450 escolas foram bloqueadas, de um total de mais de 2.000, como no dia anterior.


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