Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira

SÃO PAULO (Reuters) – A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu nesta sexta-feira a previsão de moagem de cana e de produção de açúcar do Brasil, devido a produtividades e uma área plantada inferiores ao estimado inicialmente, colocando a safra do centro-sul do país no menor nível em 11 anos.

A redução de área ocorre enquanto cultivos de grãos vêm ganhando terras antes canavieiras.

As projeções da Conab levam em conta dados de uma safra que já está adiantada em processamento no centro-sul, que responde por cerca de 90% da produção do Brasil e já moeu mais da metade da colheita estimada.

A safra do centro-sul do Brasil em 2022/23 foi estimada em 514,5 milhões de toneladas, 2% menor ante o ciclo anterior, quando a colheita foi impactada pela pior seca no país em 90 anos. Volume moído abaixo disso só foi visto pela última vez na região em 2011/12 (494,9 milhões de toneladas).

A projeção foi surpreendente, já que a maioria dos analistas independentes ainda vê a produção do centro-sul em torno de 545 milhões a 560 milhões de toneladas. A corretora StoneX, por exemplo, projetou 557,5 milhões de toneladas para a região em julho.

Para o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Antônio de Padua Rodrigues, a pesquisa da Conab retrata a intenção de produção no momento do levantamento, enquanto uma recuperação da produtividade agrícola e de sacarose foi registrada recentemente.

“Como essa pesquisa deve ter acontecido há mais de 30 dias, não deve refletir esses pontos. Além disso, em algumas regiões houve incidência de chuvas, como está acontecendo agora em agosto, que pode mudar nas projeções”, comentou.

Agora a Conab prevê a produção de açúcar do Brasil em 2022/23 para 33,9 milhões de toneladas, um corte agressivo na comparação com as 40,3 milhões de toneladas na previsão divulgada em abril, que resultará em redução de 3% na comparação com a temporada passada.

Se confirmado, o Brasil ficaria na segunda posição global de açúcar, atrás da Índia.

A fabricação de açúcar no centro-sul foi reduzida em 5,7 milhões de toneladas, para 30,7 milhões, abaixo de 32 milhões de 2021/22.

“Devido à redução na produtividade observada nos canaviais, a produção de açúcar ficou comprometida, ao passo que a produção de etanol ficou próxima da estabilidade, quando comparada à intenção das usinas em abril de 2022, no início da safra”, afirmou a companhia estatal, em relatório.

GRÃOS POR CANA

Já a safra de cana do Brasil 2022/23 foi estimada em 572,9 milhões de toneladas, ante 596 milhões na previsão de abril, o que deve configurar uma queda de 1% versus o ciclo anterior e também o menor patamar desde 2011/12 (560,9 milhões).

A área plantada com cana no país 2022/23 foi estimada em 8,13 milhões de hectares, ante 8,2 milhões na previsão de abril, agora com recuo anual de 2,6%, por concorrência de cultivos de grãos, segundo dados da Conab, que aponta a menor área desde 2010/11 (8,05 milhões de hectares).

“A grande procura por áreas para o cultivo de soja e milho, devido aos preços atrativos dos grãos, foi apontada como o principal motivo para a perda de 217,3 mil hectares na área de produção”, explicou a Conab.

“Também afetou a diminuição de área a quantidade de áreas de reforma que não puderam ser colhidas devido às geadas e estiagem em 2021”.

A estatal também chamou atenção para condições climáticas desfavoráveis, como acúmulos de déficits hídricos.

Ainda assim, a Conab projeta aumento de 1,6% na produtividade média da colheita de cana brasileira ante 21/22, quando o país viveu uma das piores secas da história. Entretanto, a estimativa ficou abaixo da alta de 3,2% na pesquisa de abril.

ETANOL

Enquanto pouco menos da metade da produção total de cana está prevista a ser destinada à produção de açúcar, a tendência é que o “mix” continue predominantemente alcooleiro, disse a Conab citando “boas receitas financeiras por causa da valorização do biocombustível nos últimos meses”.

A Conab ressalvou, contudo, que novas políticas de preços de combustíveis adotadas recentemente, com mudanças em tributações, podem mudar o perfil de destinação de cana.

A empresa do governo estimou a produção de etanol de cana do Brasil em 25,8 bilhões de litros em 2022/23, queda anual de 2,2%, também com impacto da menor produtividade, que será compensada pelo aumento na produção do combustível à base de milho.

A fabricação do etanol de milho em 22/23 deve subir 30,3%, para 4,52 bilhões de litros, em meio a uma safra recorde do cereal no país, principalmente no Centro-Oeste.

“Apesar do valor (do milho) ainda ser considerado elevado, a valorização do etanol no período estimulou as usinas a originarem de maneira agressiva no mercado, a fim de garantir o suprimento nos períodos de entressafra”, disse a Conab, lembrando que o mercado de grãos secos de destilaria DDG (subproduto usado na fabricação de ração) continua aquecido e dando suporte financeiro às unidades produtoras, com a intensificação dos confinamentos bovino nos meses de estiagem.

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