O rosto da palestina Samiha Ismail reflete medo. Esta moradora de Susya, na Cisjordânia ocupada, vive apreensiva com os colonos israelenses que invadem constantemente seu vilarejo.

A mulher sabe que a situação pode se agravar rapidamente neste local sitiado nas áridas colinas do extremo sul do território palestino ocupado por Israel desde 1967.

Segundo moradores, a atmosfera nestes vales ocupados por colonos se tornou extremamente tensa desde a eclosão da guerra em Gaza entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, há mais de nove meses.

Colonos de fazendas e casas vizinhas realizam ataques quase “diários” contra Susya.

A violência e a frequência destas operações continua “se intensificando”, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), que atua na região “rodeada” de colonos desde janeiro.

A vida em Susya parece ter parado. Seus 450 habitantes permanecem dentro de suas casas dia e noite. A localidade, formada por construções de concreto, parece um lixão público. Do lado de fora, é possível ver alguns tratores antigos e carros sem placas.

Nem mesmo as ovelhas ousam sair dos estábulos. “Cada vez que as levamos para pastar, os colonos nos perseguem”, diz Samiha Ismail, de 53 anos.

“Antes da guerra, teríamos defendido a nossa terra, mas hoje ninguém se mexe” porque os colonos são protegidos pelo Exército, diz a palestina, cujo marido e filho são “espancados” regularmente.

Os moradores relatam que homens com uniformes paramilitares arrombam portas, espancam pessoas ou confiscam propriedades.

“A maioria de nós não dorme mais”, diz ela, acrescentando que as pessoas dormem em turnos.

O Exército e a polícia israelense, assim como o órgão do Ministério da Defesa que supervisiona assuntos civis nos Territórios Palestinos Ocupados (Cogat), não responderam às tentativas de contato da AFP.

A guerra foi desencadeada por um ataque sem precedentes no sul de Israel realizado por comandos do Hamas infiltrados a partir de Gaza, que causou a morte de 1.195 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelitas.

Outros 251 foram sequestrados. Os militares israelenses estimam que 116 permanecem cativos em Gaza, 42 dos quais teriam morrido.

Em resposta, Israel lançou uma ofensiva contra Gaza que já matou 38.983 pessoas, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território administrado pelo Hamas.

Desde então, a colonização e os atos de violência dispararam na Cisjordânia.

– “Trauma permanente”

No final de junho, o governo de Israel aprovou o maior confisco de terras neste território ocupado em mais de 30 anos: 1.270 hectares passaram a ser propriedade do Estado israelense.

A Corte Internacional de Justiça (CIJ), a mais alta instância da ONU, determinou na sexta-feira que as décadas de ocupação dos territórios palestinos por Israel é “ilegal”.

Mesmo sem o apoio das autoridades israelenses, as colônias se multiplicam.

“Depois do 7 de outubro, eles tomaram todos esses morros. Mas essa terra é nossa”, contesta Mohamed Al Nawajaa, de 78 anos.

Neste momento, o que mais lhe preocupa é a segurança de seus 80 netos. Então ele impôs uma regra: só ele pode abrir a porta de sua cabana. E como todos os seus vizinhos, ele colocou grades nas janelas.

MSF foi destacada para Susya para cuidar da saúde mental de seus habitantes. “Há um terror psicológico. É um trauma permanente”, diz Simona Onidi, coordenadora da ONG na província de Hebron.

Abdul Rahim Al Nawajaa não espera nada dos médicos nem das autoridades. “O sofrimento é interminável”, diz este beduíno de 60 anos cujo pai foi morto há alguns anos devido a uma disputa com colonos por causa de uma ovelha, diz ele, e cuja casa foi demolida “várias vezes”.

“Os colonos agem com impunidade. O soldado aponta uma arma para a sua cabeça e você não pode fazer nada”, afirma.

“Ficaremos em nossas casa e vamos morrer aqui”, diz Mohamed Al-Nawajaa.

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