O portal UOL iniciou uma investigação em que aponta que uma compra de 500 fuzis feita pela Polícia Civil do Rio de Janeiro contém indício de favorecimento. A liberação dos recursos para a aquisição das armas foi feita pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em conjunto com o Ministério da Justiça.

A empresa vencedora do pregão, realizado em junho de 2021, foi a Sig Sauer – indústria bélica com sede nos Estados Unidos – com a proposta de R$ 3.810.442,05. No entanto, a compra do armamento foi concretizada cinco meses depois, quando Flávio Bolsonaro conseguiu a liberação de R$ 3 milhões com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), que é a principal estrutura do Ministério da Justiça.

https://www.facebook.com/flaviobolsonaro/posts/2542991519169653

Outros fabricantes de armamentos bélicos apontaram que o edital era repleto de restrições à concorrência, o que teria levantado suspeitas de favorecimento.

Uma das exigências que causou estranheza foi que o armamento escolhido deveria estar “em uso por forças de segurança ou militares internacionais há pelo menos 5 anos”.

Esse ponto fez com que três empresas contestassem o edital de licitação. Porém ele foi mantido pela Polícia Civil.

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Única concorrente foi eliminada

Além da Sig Sauer, a nacional Taurus e as americanas Springfield Armory e Regulus chegaram a enviar suas propostas à Polícia Civil do Rio.

A única que tentou participar do pregão foi a Springfield Armory, mas deixou de apresentar alguns documentos e, por isso, foi eliminada.

Ao ser questionado, Luiz Horta, diretor internacional de vendas e marketing da Springfield, disse que, para ele, “não teve favorecimento. Foi falta de experiência do pregoeiro, porque poderia ter sanado em cinco minutos com todo mundo na linha”.

Policial que trabalha para a Sig Sauer atuou no edital

De acordo com o UOL, três policiais elaboraram toda a parte técnica da licitação. Um deles, Manoel Hermida Lage, trabalha para a Sig Sauer como instrutor no campo de tiro da empresa no Brasil. Ele também possui o cargo de inspetor da Polícia Civil.

Ao ser questionada, a Polícia Civil informou que Manoel Lage não possui “qualquer vínculo empregatício com a empresa citada”. E a participação em campo de tiro “é considerada uma atividade de docência e autorizada para prática particular fora da atividade policial”.

Contudo, fotos publicadas nas redes sociais de Manoel, Sig Sauer Brasil e da empresa Performa Defesa – fundada por Marcelo Costa – mostram o inspetor da Polícia Civil em reuniões para apresentar as armas da Sig Sauer para outras corporações policiais do pais.

https://www.instagram.com/p/CXEWJcdM6WI/

O que dizem os envolvidos

Nesta segunda-feira (31), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou, por meio de nota, que não tem conhecimento de nenhuma irregularidade na compra dos 500 fuzis. Ele defende que a licitação seja investigada caso haja indícios.

O UOL tentou contato com Manoel Lage, por meio do Instagram, mas não obteve retorno.

Também solicitou à assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio de Janeiro para ter uma entrevista com ele, mas não teve sucesso.

A Polícia Civil negou qualquer favorecimento a Sig Sauer e afirmou que a licitação foi auditada por órgãos públicos.



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