19/04/2021 - 18:27
Desde a criação das primeiras competições europeias de clubes, em meados da década de 1950, até o anúncio da Superliga europeia, nesta segunda-feira, houve divisões entre a tradição e a vontade dos grandes clubes de aumentarem seus rendimentos.
De fato, a Copa dos Campeões Europeus, prestigiada precursora da ‘Liga dos Campeões’, nasceu como iniciativa privada na temporada 1955-1956, promovida pelo jornal francês L’Équipe e com 16 equipes participantes.
A Uefa, que acabava de ser fundada, rejeitou a organização da competição desde o início, mas a Fifa, preocupada que um campeonato deste tamanho crescesse fora das estruturas oficiais, pressionou a Uefa a aderir e a dar o seu aval ao evento.
No primeiro ano, 16 federações nacionais designaram seus representantes. Apenas 7 campeões nacionais competiram, as outras 9 equipes foram escolhidas por sua notoriedade.
A Uefa exigiu, na temporada seguinte, que cada país enviasse o seu campeão.
Dois meses após o nascimento da Copa da Europa, várias grandes cidades da Europa criaram a ‘Taça das Cidades com Feiras’, para promover suas feiras internacionais. Esta competição foi disputada até 1971, quando a Uefa assumiu a sua organização e a rebatizou de ‘Copa da Uefa’.
A breve ‘Copa Latina’, que reunia clubes de Itália, França, Portugal e Espanha, desapareceu em 1957.
Extremamente simples no formato (jogos de ida e volta e eliminatórias), durante cerca de quatro décadas, a Copa dos Campeões Europeus dita o ritmo das temporadas de futebol.
No entanto, a pressão dos grandes clubes para multiplicar jogos e receitas levou a Uefa a modificar o formato em 1991-1992, introduzindo a fase de grupos. Desde então, essa modalidade passou por diversas mudanças.
No primeiro ano, em 1991-1992, foram testadas duas rodadas de eliminação direta nos 16-avos e oitavas de final, os vencedores se enfrentavam em dois grupos de quatro, onde os vencedores avançavam à final.
A partir de 1994-1995, a fase de grupos passou para o início do torneio: quatro grupos, que se tornariam seis em 1997-1998, dando a oito times o acesso às quartas de final.
Mas a ambição dos grandes clubes nunca para.
Depois de ganhar uma vaga no torneio em 1997 para os segundos colocados de cada país e para o terceiro (e quarto colocado em algumas ligas) em 1999, os pesos pesados do continente conseguiram que a Uefa criasse uma segunda fase de grupos na temporada de 1999-2000, com o objetivo de reduzir os resultados imprevistos de eliminações diretas.
Os 32 classificados se enfrentavam primeiro em oito grupos de quatro, e depois outros quatro em quatro grupos, que dava acesso às quartas de final. Pobre no nível épico, o sistema foi abandonado em 2002-2003.
A Uefa recuperou então a fase de grupos única, que segue até hoje.
Apesar da popularidade da competição, os grandes clubes não desistiram de tentar garantir um número fixo de partidas internacionais por ano para assegurar sua renda. A solução, segundo eles, é criar um campeonato europeu fechado ou semifechado, rapidamente apelidado de ‘Superliga’.
A poderosa Associação de Clubes Europeus (European Club Association, ECA) foi a primeira a ameaçar com este projeto em 2019, apostando em um sistema de promoção-rebaixamento que privilegiava os grandes.
Esta primeira pressão levou a Uefa a desenvolver uma reforma da competição que foi a aprovada nesta segunda-feira, com uma primeira fase com 36 clubes cada um disputando dez jogos contra adversários diferentes.
Enquanto a maioria dos quase 200 clubes membros ou associados da ECA estão satisfeitos com o projeto da Uefa, os doze mais poderosos decidiram se rebelar e desencadear a maior crise do futebol europeu em 70 anos.
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