Um estudo sobre o futuro do trabalho da consultoria global McKinsey & Company revela que seis em cada dez trabalhos podem ter mais de 30% de suas atividades automatizadas. No cenário mais modesto, isso poderá impactar, até 2030, a atividade laboral de 400 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, a estimativa é que o efeito da automação atinja cerca de 16 milhões de brasileiros, especialmente os jovens que não tiveram acesso a uma educação de qualidade.

Esse novo cenário vai exigir um aumento de qualidades humanas, como a criatividade, o trabalho em equipe, a persistência, a abertura ao novo, a comunicação e o pensamento crítico, entre outras. Por isso, a oferta de uma educação com significado, que seja capaz de desenvolver o potencial pleno das pessoas, torna-se condição imperativa para o acesso aos postos de trabalho atuais e futuros.

Isso requer uma educação que vá além do desenvolvimento de competências cognitivas, mas que seja capaz de introduzir, de forma articulada com estas, as chamadas competências socioemocionais, na perspectiva do desenvolvimento pleno de nossos educandos, em conformidade com o Artigo 2º da LDB (A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho). Quando essa articulação ocorre no contexto do currículo escolar, e de forma intencional, é o que chamamos de educação integral.

Vários estudos mostram que estudantes mais responsáveis, colaborativos, persistentes, curiosos e resilientes aprendem mais, concluem seus estudos básicos na idade certa e saem da escola preparados para seguir aprendendo ao longo da vida. Na idade adulta, tornam-se cidadãos mais conscientes e participativos, trabalhadores mais éticos, produtivos e realizados, enfim, seres humanos mais aptos a fazerem boas escolhas e usufruírem delas.

Espera-se assim que as escolas preparem as nossas crianças e os nossos jovens para uma educação que seja capaz de desenvolver tais competências e que não seja mais uma disciplina, mas uma nova forma de ensinar e de aprender – o que significa, por outro lado, a necessidade de dar um novo significado à formação do professor.

Por isso, cabe agora ao Conselho Nacional de Educação (CNE), a partir do encaminhamento feito pelo Ministério da Educação (MEC), em dezembro último, elaborar as novas diretrizes para formação docente. Um trabalho que vai exigir uma grande articulação com todos os atores envolvidos com a educação brasileira, das universidades às secretarias de educação, incluindo os conselhos estaduais e municipais de educação. Creio que seja esta a mais importante tarefa, dentre várias, do CNE para o ano em curso.

 

(Parte deste conteúdo foi extraído do artigo “O Conhecimento na perspectiva de uma educação plena”, produzido por este autor para a Editora FTD.)