Dois compadres vão se encontrar neste domingo no Mineirão. Eles são vizinhos, mas vão separados ao estádio. Em duelo que vale a liderança do Campeonato Mineiro, os amigos de longa data Levir Culpi e Givanildo de Oliveira estarão temporariamente em lados opostos no confronto entre Atlético e América, ocupando as respectivas áreas técnicas.

Os técnicos veteranos – Givanildo está com 70 anos, quatro a mais do que Levir – moram no mesmo hotel e convivem de perto no mundo do futebol desde a década de 1970, quando atuaram juntos pelo Santa Cruz, naquele que é considerado o maior time da história do clube pernambucano, o semifinalista do Campeonato Brasileiro de 1975.

“Aprendi muitas coisas sobre futebol ao lado de tantos craques. Givanildo era o capitão do Santa Cruz e foi convocado para a seleção brasileira nos anos 70”, disse Levir, ao Estado, relembrando o período em que foi zagueiro do Santa Cruz, de 1974 a 1976, conquistando o título estadual no último ano.

Essa passagem também foi produtiva fora de campo, com Levir aproveitando o longo período de afastamento dos gramados por causa de uma lesão para estudar Educação Física, além de estreitar os laços com Givanildo. O incansável meio-campista se consagrou como um dos ídolos históricos do clube em duas passagens, de 1969 a 1976 e entre 1977 e 1979. E faturou sete estaduais com a camisa tricolor no período, também vencendo o Torneio Bicentenário dos EUA e a Taça do Atlântico pela seleção.

“É uma amizade que continua. Normalmente, quando me perguntam de outro treinador, eu não posso dizer que sou amigo. Mas do Levir, sim, sou amigo dele, isso eu posso dizer”, disse Givanildo.

A identificação com o Santa Cruz se repete hoje para Givanildo como técnico do América, enquanto Levir é um dos principais treinadores da história atleticana. E o destino os aproximou novamente no segundo semestre de 2018, quando foram contratados pelos clubes com objetivos claros no Brasileirão: evitar o rebaixamento do América e classificar o Atlético à Copa Libertadores. Mas só Levir teve êxito na tarefa.

Eles, porém, permanecem em Belo Horizonte para a temporada 2019. “Hoje estamos morando no mesmo hotel em BH, ele treinando o América e eu o Atlético, pode? Já estamos curtindo nossos netinhos e curtindo uma amizade que está próxima de ser cinquentenária”, comenta Levir.

Em mais uma coincidência nas suas trajetórias, ambos estão na quinta passagem pelos clubes, sendo que Givanildo é o segundo técnico que mais vezes comandou o América – 251 jogos – e Levir ocupa o terceiro posto na lista dos que mais treinou o Atlético – 313. Só que apenas uma vez se enfrentaram por esses clubes, em 2015, com triunfo americano por 2 a 1.

Até por isso, Levir prefere desconversar ao comentar as qualidades do treinador amigo e adversário. “As virtudes que eu vejo nele talvez sejam os meus defeitos”, brinca o atleticano, que vê o futebol como um catalisador de amizades. “Agradeço aos deuses do futebol por encontrar pessoas que participaram da minha formação como pessoa e o prazer de encontrá-las como este ‘lazarento’ do Givanildo”.