A morte do líder político do Hamas em um bombardeio em Teerã causou comoção nos territórios palestinos, com algumas vozes expressando decepção porque o Irã não foi capaz de “protegê-lo”.

“Esta notícia é algo inacreditável”, afirmou Wael Qudayh, de 35 anos, morador de Deir al-Balah.

Hamas e a Guarda Revolucionária do Irã anunciaram nesta quarta-feira (31) que Hanyieh morreu em um bombardeio em Teerã atribuído a Israel. Ele estava na capital iraniana para assistir à posse do presidente Masud Pezeshkian na terça-feira.

“O Catar conseguiu proteger Haniyeh durante 10 meses, mas o Irã não conseguiu nem por algumas horas”, disse Yusef Saed, 40 anos, também morador de Deir al-Balah.

Na Cisjordânia ocupada por Israel, Hosam Abdel Razek, 45 anos, funcionário de uma instituição privada em Ramallah, disse que a morte de Haniyeh mostrou que “o sangue palestino é barato”.

“A morte de Ismail Haniyeh no Irã mostra que nós, o povo palestino, não temos proteção, que o nosso sangue é barato e que a nação árabe e islâmica nos vendeu aos Estados Unidos e Israel”, destacou.

Sami Naem afirmou em Deir al-Balah que esta morte “afetará as negociações” para um cessar-fogo entre Israel e o Hamas.

Rami Yusef discorda e argumentou que o assassinato do líder do Hamas pode até acelerar o fim da guerra.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, “é pressionado pelos Estados Unidos para acabar com a guerra, mas quer uma vitória… e acredita que Haniyeh é uma grande conquista”, destacou.

– Mártir –

Facções palestinas convocaram uma greve geral e marchas pela Cisjordânia nesta quarta-feira para protestar contra a morte de Haniyeh.

Jornalistas da AFP em Ramallah viram funcionários deixando edifícios governamentais em resposta ao chamado à greve, assim como centenas de pessoas marchando com bandeiras pelas ruas da cidade.

Vários palestinos na Faixa de Gaza disseram que Haniyeh virou “mártir” devido à forma como foi morto.

“Isso é o que todo palestino espera… virar mártir enquanto defende sua terra, seu povo e sua santidade”, disse Muhammad Farwana, de 38 anos, da cidade de Khan Yunis, no sul do país, onde uma grande ofensiva das tropas israelenses deslocou milhares de pessoas.

“Haniyeh foi alguém que colocou seus filhos e netos no mesmo caminho”, observou ele.

Em junho, 10 membros da família de Haniyeh foram mortos em um ataque aéreo israelense ao campo de refugiados de Al Shati, no norte da Faixa de Gaza.

Em abril, Haniyeh perdeu três filhos e quatro netos em um ataque israelense no centro de Gaza, quando o Exército de Israel os acusou de “atividades terroristas”.

Haniyeh disse na época que cerca de 60 membros de sua família foram mortos desde o início da guerra, em 7 de outubro.

Sua filha Sara Ismail Haniyeh lamentou sua morte em uma postagem no X, elogiando um homem “amado por todos”.

A guerra começou após um ataque sem precedentes do Hamas a Israel que resultou na morte de 1.197 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais israelenses.

A campanha de retaliação de Israel contra o Hamas custou pelo menos 39.445 vidas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que não fornece detalhe se os mortos são civis ou combatentes.

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