Nos anos 1970, o detetive Harry Callahan, interpretado por Clint Eastwood, brilhou em um filme que marcou época: Perseguidor Implacável. O detetive passava os dias e noites obcecado por um criminoso que ameaçava matar pessoas se não recebesse milhares de dólares. Hoje em dia, graças à tecnologia, o conceito de perseguidor mudou tanto que foi preciso até criar um novo termo para eles — são os temidos stalkers. Da mesma forma como o detetive de Eastwood marcou a década de 70, uma nova produção da Netflix acabou se tornando um retrato perfeito desse novo mundo de obsessões, onde o assédio é feito à moda antiga, fisicamente, mas também por meio de e-mails, celulares e redes sociais.

A série Bebê Rena, sucesso em todo o mundo, leva o desgastado conceito de história “inspirada em fatos reais” a outro patamar.

Afinal, transforma a vítima do caso real em roteirista e protagonista da própria história.

Nos papéis secundários, a escolha por atores muito parecidos com os personagens de verdade levou o público a investigar e tentar identificar essas pessoas.

Isso tem acarretado outro problema: os supostos envolvidos agora ameaçam a plataforma de streaming e o autor com processos milionários. “Ele está usando a série para me perseguir agora. Eu sou a vítima. Ele escreveu uma maldita série sobre mim”, afirma a mulher que seria a verdadeira stalker.

Como uma série da Netflix virou hit ao misturar fatos e ficção
Martha, a vilã de Bebê Rena: mulher que teria sido inspiração para personagem ameaça processar Netflix (Crédito:Divulgação )

O enredo gira em torno do comediante e bartender escocês Donny (Richard Gadd, o criador da série), que conhece Martha (Jessica Gunning) no bar onde trabalha. Um ato de gentileza dele desencadeia nela um comportamento obsessivo, levando-a a inundá-lo com centenas de e-mails, mensagens por celular e perseguições pela cidade.

Enquanto isso, Donny lida com seu relacionamento com a namorada Teri (Nava Mau), uma terapeuta trans, enquanto tenta esquecer o abusador sexual que o seduziu com promessas de trabalho.

Richard Gadd já havia apresentado a ideia na peça Reindeer, que estreou no tradicional Festival Fringe de Edimburgo, na Escócia, em 2019, e mais tarde se tornou uma peça premiada em Londres.

A qualidade de Bebê Rena é inegável, mas isso certamente não é suficiente para explicar o fenômeno. Por trás está a fascinação que o público tem ao acreditar que está assistindo a uma história real, protagonizada pela vítima que passou por tudo aquilo. A experiência passa, então, algo entre ficção e reality show, onde cada episódio é mais e mais surpreendente. É a típica história que, se alguém dissesse que foi inventada, não seria aceita por ser “inverossímil demais”. Mas é verdadeira.

Stalkers, os grandes vilões do streaming

Ataques online

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A série documental Posso te Contar um Segredo? traz depoimentos das vítimas de Matthew Hardy, que criava perfis falsos para perseguir mulheres.

Alto Risco

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Em Você, jovem escritora conhece o charmoso gerente de uma livraria, que passa a fazer tudo para conquistá-la. A paixão vira uma perigosa obsessão.

Criminosos reais

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A produção Eu Sou Stalker traz entrevistas com criminosos reais, como Daniel Thompson (foto), que foi preso nos EUA após importunar ex-namoradas.