Como Trump despistou o ataque ao Irã

REUTERS/Leah Millis
Donald Trump Foto: REUTERS/Leah Millis

Quando Donald Trump disse, na quinta-feira (19), que se daria duas semanas para decidir se bombardearia o Irã, seus críticos concluíram que o presidente americano estava adiando uma decisão difícil.

Na noite seguinte, ele deixou a Casa Branca para comparecer a um jantar de arrecadação de fundos em seu complexo de golfe em Nova Jersey, e parte do mundo pensava que ainda havia espaço para a diplomacia.

Na realidade, Trump já estava a ponto de se decidir.

Poucas horas depois de sua chegada ao Trump National Golf Club Bedminster, na noite de sexta-feira, os primeiros bombardeiros B-2 decolaram de uma base aérea americana.

No dia seguinte, quando os bombardeiros ainda estavam no ar, Trump tomou a decisão de atacar três instalações nucleares iranianas, na primeira intervenção militar direta dos Estados Unidos contra o Irã desde a Revolução Islâmica de 1979.

“O presidente deu a ordem final ao secretário de Defesa no sábado”, disse à AFP um funcionário da Casa Branca que pediu anonimato.

“Na semana anterior ao ataque, o presidente continuou com a diplomacia, principalmente através dos esforços do enviado especial [Steve] Witkoff, enquanto o Pentágono preparava simultaneamente a operação”, acrescentou.

‘Distração’

A tática das “duas semanas” de Trump parecia fazer parte de uma campanha que o secretário de Defesa, Pete Hegseth, denominou de “distração”, que incluía várias B-2 voando em direção contrária como isca.

Trump apostou em uma ambiguidade estratégica durante toda a semana. Primeiro encurtou sua presença na cúpula do G7 para se reunir com sua equipe de segurança nacional. Depois, lançou uma série de mensagens belicosas nas redes sociais contra o líder supremo iraniano.

Na quarta-feira, disse: “Talvez eu faça, talvez não” quando perguntado se atacaria o Irã.

Por fim, sua porta-voz Karoline Leavitt leu uma declaração de Trump na quinta-feira que mencionava uma possibilidade “substancial” de negociações e que ele tomaria uma decisão “nas próximas duas semanas”.

Trump tirou proveito das críticas qeu costuma receber ao estabelecer prazos de duas semanas para tudo, desde a Ucrânia até cuidados médicos, e depois descumpri-los.

Mas, nos bastidores, Trump estava cada vez mais resoluto, disseram funcionários americanos.

O presidente se opunha a que Israel atacasse o Irã até que este o fez em 13 de junho, mas depois admirou abertamente o sucesso dessa ofensiva e conversou diariamente com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

A conquista da superioridade aérea israelense sobre o Irã deu a Trump uma oportunidade única para atacar o programa nuclear contra o qual ele tem protestado desde o seu primeiro mandato.

O republicano foi “informado diariamente sobre os esforços dos israelenses e a operação em si enquanto decidia se prosseguiria”, disse o funcionário da Casa Branca.

O comandante-chefe americano realizou reuniões diárias com seu Conselho de Segurança Nacional na sala de crise da Casa Branca enquanto ponderava suas opções.

Para evitar a oposição de seu movimento MAGA (acrônimo em inglês de “Torne os Estados Unidos Grandes Outra Vez”) a outra “guerra eterna” no Oriente Médio, ele se reuniu com seu influente ex-assessor Steve Bannon.

Poucos sabiam

Em público, Trump e a Casa Branca se esforçaram para manter as coisas em segredo.

O normalmente falante Trump não disse nada aos jornalistas ao retornar à Casa Branca na noite de sábado, apenas um minuto após sua chegada programada para as 18h.

O primeiro bombardeiro B-2 lançou suas bombas apenas 40 minutos depois, às 18h40 horário americano (19h40 em Brasília), ou 2h10 de domingo, no horário iraniano.

Os últimos mísseis Tomahawk disparados de submarinos atingiram seus alvos às 19h05. Trump anunciou os ataques “muito bem-sucedidos” em uma mensagem em sua plataforma Truth Social às 19h50.

A Casa Branca então publicou imagens de Trump com aspecto pensativo na sala de crise, usando seu boné vermelho de beisebol com o lema do movimento MAGA.

“Esta foi uma missão altamente classificada com muito poucas pessoas em Washington cientes do momento ou da natureza deste plano”, disse no domingo o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, general Dan Caine.

Mas as decisões difíceis estão longe de acabar para Trump, que se reuniu novamente com sua equipe na segunda-feira no Salão Oval.

Se os ataques americanos não destruíram completamente as instalações nucleares iranianas, como foi alegado, lançará mais ataques? E, acima de tudo, Trump irá além de atacar as instalações nucleares?

“Se o atual regime iraniano for incapaz de TORNAR O IRÃ GRANDE NOVAMENTE, por que não haveria uma mudança de regime?”, escreveu Trump no Truth Social no domingo.